CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE

Seja bem-vindo a "CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE". Aqui procuraremos apresentar artigos acerca de assuntos acadêmicos relacionados aos mais diversos saberes, mantendo sempre a premissa de que a teologia é a rainha das ciências, pois trata dos fundamentos (pressupostos) de todo pensamento, bem como de seu encerramento ou coroamento final. Inspiramo-nos em John Wesley, leitor voraz de poesia e filosofia clássica, conhecedor e professor de várias línguas, escritor de livros de medicina, teólogo, filantropo, professor de Oxford e pregador fervoroso do avivamento espiritual que incendiou a Inglaterra no século XVIII.

A situação atual é avaliada dentro de seus vários aspectos modais (econômico, jurídico, político, linguístico, etc.), mas com a certeza de que esses momentos da realidade precisam encontrar um fator último e absoluto que lhes dê coerência. Esse fator último define a cosmovisão adotada. Caso não reconheçamos Deus nela, incorreremos no erro de absolutizar algum aspecto modal, que é relativo por definição.

A nossa cosmovisão não é baseada na dicotomia "forma e matéria" (pensamento greco-clássico), nem na dicotomia "natureza-graça" (catolicismo), nem na "natureza-liberdade" (humanismo), mas, sim, na tricotomia "criação-queda-redenção" (pensamento evangélico).

ESTE BLOG INICIOU EM 09 DE JANEIRO DE 2012





quarta-feira, 18 de abril de 2012

AS INFLUÊNCIAS DE C. S. LEWIS

Rev. Glauco Filho e Glauco Neto na casa onde morou C. S. Lewis em Oxford (The Kilns)

As influências de C. S. Lewis

Livro revela as fontes literárias em que o autor de As crônicas de Nárnia bebeu e se inspirou

Por: Glauco Magalhães Filho
A experiência religiosa do escritor C. S. Lewis se destacou não apenas por ter sido um intelectual ateu que superou a incredulidade, mas também pelo que ele se tornou como resultado da fé, apresentando ao mundo sua perspectiva cristã através de vários estilos literários. Foi tanto filósofo como poeta, pois nele se conjugaram razão e sensibilidade, lógica e imaginação. A perda da mãe na infância e a dificuldade de relacionamento com o pai foram fatores que o aproximaram do irmão quando os dois eram crianças. Eles gostavam de compartilhar a leitura dos livros que se distribuíam por todos os espaços da casa, que inspiravam uma atmosfera fértil para a imaginação.

Não é possível compreender Lewis e seus escritos com profundidade, senão dentro do amplo escopo de suas leituras.
A biblioteca de C. S. Lewis, uma compilação feita por James Stuart Bell e Anthony Palmer Dawson, é a oportunidade de suprirmos a lacuna resultante do desconhecimento das obras que influenciaram o escritor irlandês. Lewis testemunhou sobre uma profunda experiência que tivera ao ler uma obra de George MacDonald acerca da importância da fantasia. Ele chegou mesmo a dizer que teve o seu "batismo de imaginação" naquele momento.

No século XVII, os puritanos valorizaram muito obras religiosas alegóricas, como
O peregrino, de John Bunyan, e O paraíso perdido, de John Milton. Esses autores puritanos também exerceram grande influência sobre C. S. Lewis, que chegou, inclusive, a prefaciar uma publicação de O paraíso perdido, além de ter escrito uma versão pessoal sobre O retorno do peregrino. Lewis, em contrapartida, recebeu inspiração de Martinho Lutero para desmascarar o diabo com a literatura irônica e sarcástica de Cartas do diabo ao seu aprendiz. No estilo de Dante Alighiere, fez representações ilustrativas do estado eterno das almas em O grande abismo.

Como J. R. R. Tolkien, Lewis pertencia aos
Inklings, grupo de catedráticos que discutia literatura, filosofia e, principalmente, mitologia. Tolkien não valorizou As crônicas de Nárnia, pois não gostava de alegorias. Lewis, porém, achou fantástica a obra-prima O senhor dos anéis. O próprio Tolkien credita a Lewis o estímulo que lhe possibilitou concluir a obra. Como filósofo, Lewis foi profundamente influenciado pela gnosiologia (teoria do conhecimento) de Aristóteles. O filósofo grego defendia um conceito objetivo de verdade: um pensamento é verdadeiro quando corresponde à realidade. Na linha aristotélica, combateu o relativismo e o ceticismo. Em seu livro A abolição do homem
, refutou a teoria subjetivista acerca dos valores.

No campo da teologia, se rendeu ao pensamento de Santo Agostinho, mas ampliou o estudo do amor de modo a envolver também as dimensões romântica e sexual. Com o Doutor de Hipona, defendeu a lei natural inscrita na razão humana, como se pode ver em
Mero cristianismo. Com os místicos cristãos da Idade Média, Lewis admitiu que Deus é um ser inefável, e que apenas pela linguagem metafórica poderíamos falar sobre ele. A partir do pensamento filosófico de Rudolf Otto, Lewis, em seu livro O problema do sofrimento, explicou Deus como o ser numinoso, isto é, a essência pura diante da qual sentimos espanto e fascínio. Foi também um profundo admirador de
G. K. Chesterton, considerado por ele um exemplo de sobriedade.

Que os leitores agora possam aproveitar a oportunidade de passear entre os muitos livros espalhados por toda parte na casa de C. S. Lewis!

Artigo do Rev. Glauco Filho na Revista "Seu Mundo" (Editora Mundo Cristão) de julho/2006

4 comentários:

  1. Olá, Professor Glauco. Ótimo post. Gosto muito da história de amizade entre Tolkien e Lewis, principalmente por ver como as crenças distintas não impedem a admiração mútua, bem como o diálogo entre eles, o que resultou no aprimoramento e crescimento de ambos, tanto na fé como literariamente. Não sei se por ser católico, prefiro o estilo do Prof. Tolkien, mas acredito que ambos cumprem o papel de divulgadores dos valores cristão, além do maravilhoso entreterimento proporcionado pelos dois.

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  2. Estimado Orlando,
    Eu também admiro muito a amizade dos "Inklings", todavia as biografias de Tolkien revelam um aspecto tenso da amizade dele com Lewis. Na verdade, a amizade foi mais forte antes da conversão de Lewis. Após a conversão de C. S. Lewis, Tolkien se ressentiu por ele ter preferido o protestantismo ao catolicismo. Além disso, a fé de Lewis teve expressão pública, pois ele escreveu muitos livros de apologética cristã e usou a literatura fantástica para pregar o evangelho por alegorias. Tolkien tinha uma "fé reclusa" e não aceitava usar a literatura para divulgar o evangelho por alegorias. Tolkien criticava o zelo de Lewis na evangelização pela literatura alegórica, algo bem peculiar ao protestantismo (Como se vê nas obras de John Bunyan). Lewis escrevia e publicava sem parar, enquanto Tolkien, mais inseguro, só publicava muito tempo depois de ter escrito. Tolkien criticava as obras de Lewis e a celeridade com que as publicava, enquanto Lewis estimulava Tolkien a não desistir de escrever, principalmente "O Senhor dos Anéis". Tolkien só publicou "O Senhor dos Anéis" pelo estímulo de Lewis, mas Lewis publicava as suas obras com confiança independentemente das críticas mordazes de Tolkien. Alguns biográfos de Tolkien sugerem que o fato de Lewis, mais novo, ter ganho rápida projeção possa ter causado uma certa inveja em Tolkien. O fato é que Tolkien foi se afastando de Lewis pouco a pouco até criar uma relativa e duradoura distância. Quando próximo de morrer e muito enfermo, Lewis foi visitado por Tolkien, ele não conseguiu reconhecê-lo.

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  3. Isto é verdade... O próprio Tolkien admite que deve a publicação do Senhor dos Anéis ao encorajamento de Lewis, mas, apesar disso, não gostava do seu estilo de escrita, chegando a chamar de "tolice cansativa" (mas somente na esfera particular, nunca o criticando publicamente, sempre sendo polido e educado nesse sentido).

    Interessante... Eu nunca tinha pensado nesta hipótese de inveja, ou no ressentimento pela escolha do protestantismo. Confesso que não sei qual a visão de Lewis sobre o assunto, mas sempre achei que houve algo como uma "substituição" na amizade de Lewis, de Tolkien para Charles Williams, sendo esta última bem mais pessoal e íntima do que foi com o primeiro.

    Mas tenho essa idéia levando em conta somente o que Tolkien escreveu, como "Quando encontro Jack ele naturalmente se refugia em conversas “literárias” (para as quais ainda nenhum pesar e ansiedade domésticos ofuscaram seu entusiasmo)." ou "Fomos separados pela primeira vez com a súbita aparição de Charles Williams, e depois por seu casamento, sobre o qual ele nunca sequer me contou;"

    Apesar disso reconheço que Tolkien tinha uma personalidade forte e difícil. Era muito crítico, tanto próprio como dos outros, e muitas vezes não tinha receio de ofender alguém com suas palavras. E quando se falava de alegoria, então... Afinal, ele defendia que o conto de fadas deveria ter sucesso apenas como uma história, instigar, agradar. Mas para que pareça ser sobre algo digno de consideração, deve haver alguma relevância à “situação humana”. Aí entrariam algumas reflexões e “valores” do autor, por meio da aplicabilidade. Ou seja, não representar, mas exemplificar. Confesso que esta visão me agrada mais. Talvez por isso veja as Crônicas de Nárnia somente como diversão literária, não me atento aos valores. Mas em um caso real, eu poderia pensar: "Bom, nesta situação, o Gandalf faria isso", hehehehe. E teria quase certeza que se o seguisse estaria fazendo o bem.

    Enfim. Este é um assunto bastante extenso, mas não acredito que haja certo ou errado. São duas visões diferentes. Aceito ambas, e gostos dos frutos materias das duas (a literatura). Mas me sinto mais confortável com a visão de Tolkien.

    É... este post e a sua resposta me deram muito o que pensar. Outra coisa que eu ainda não tinha pensado: Tolkien teria muito mais motivos para escrever livros de apologética, mas acredito que as dificuldades pelas quais ele, sua mãe e seu irmão passaram acabaram o inibindo, o que levou a essa fé reclusa. Afinal, ser católico na Inglaterra não é fácil.

    Até mais, Professor!

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    1. Por falar em valores, Orlando, eu escrevi um livro intitulado "Teoria dos Valores Jurídicos", que é baseado inteiramente em "O Senhor dos Anéis". Ele já teve a 1a edição esgotada. Eu estou tentando publicá-lo novamente, mas ainda não recebi resposta das editoras.

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