Oswald Spengler, um crítico firme do nazismo e do racismo, escreveu uma obra intitulada O Declínio do Ocidente, na qual deixou claro que a Europa, depois de ter chegado ao seu auge cultural, começou a descer a ladeira. Entre as razões para o referido declínio estava a valorização da quantidade em detrimento da qualidade, o conformismo e o gosto incessante por novidades frívolas. Para Spengler, essa situação produziu uma impossibilidade prática de concentração nas pouquíssimas coisas que são realmente essenciais, bem como uma ausência de verdadeira paixão.
Embora o papismo, tenha sido muito prejudicial ao verdadeiro cristianismo, a glória conquistada pelo continente europeu é impensável sem o cristianismo e, particularmente, sem o protestantismo (a diferença entre o norte e o sul da Europa comprova isso). É uma pena que a “europeização” do mundo globalizado esteja acontecendo através de um povo que abandonou os valores que lhe deram grandeza. Os países de terceiro mundo, portanto, não estão imitando os costumes e as ideias que elevaram a Europa, mas, sim, as práticas a tem corrompido moral, cultural e economicamente. Se fôssemos inteligentes, nós buscaríamos saber o que engrandeceu a Europa ao longo da história em vez de imitarmos acriticamente a sua aparência contemporânea.
Alguns chegam mesmo a sugerir que o desenvolvimento do Brasil depende de sua "habilidade" para seguir a frouxidão moral da Europa hodierna. Assim, não faltam os que querem a institucionalização da sodomia, do aborto e das drogas. No âmbito da filosofia, defende-se o relativismo quanto aos valores e o ceticismo quanto à verdade. A cosmovisão cristã é falsamente considerada “autoritária” e a perspectiva bíblica é a anatematizada pelos inquisidores universitários.
O segredo do progresso norte-americano encontra-se nas seguintes palavras presentes na Declaração de Independência: “Consideramos que estas verdades são auto-evidentes, que todos os homens são criaturas iguais, que todos são dotados pelo seu Criador de certos direitos iguais, entre os quais estão o direito à vida, à liberdade e à prossecução da felicidade”. Na época dessa declaração, a noção de felicidade não se ligava ao consumismo, mas à sabedoria prática que procura a maximização do ser com um mínimo de dependência das coisas temporais. Segundo Leo Strauss, entretanto, a nação americana já não tem essa fé, sendo poucas as pessoas que hoje afirmariam a “auto-evidência” dos valores mencionados. Não é de admirar, portanto, que os EUA também estejam em crise.
Leo Strauss lembra que os alemães começaram a abandonar a noção de uma lei natural (jurídica e moral) universal no final do século XIX e início do século XX. Eles, então, passaram a inclinar-se para o historicismo com o seu consequente relativismo. O resultado disso foi testemunhado pela história: o triunfo da força e o autoritarismo nazista.
Fulton J. Sheen constatou com discernimento o fato de que os aliados venceram a guerra militar contra o eixo, mas perderam a guerra ideológica. A democracia venceu o totalitarismo (nazismo, fascismo), mas perdeu o seu próprio fundamento axiológico. Agora, ela não passa da ditadura da minoria (dos experts da “ciência”, dos técnicos e dos pseudojuristas), a legitimidade (a priori) tornou-se legitimação midiática (a posteriori) e os direitos humanos perderam o seu conteúdo moral. O pensamento relativista do historicismo alemão encontrou herdeiros no pós-guerra através da filosofia francesa e da ciência social norte-americana.
A realidade é que a ciência pode ser inventiva quanto aos meios, mas ela não define critérios para distinguir os objetivos justos e legítimos dos objetivos injustos e ilegítimos. A ciência é instrumental, nasce para servir a todos os interesses e poderes. No campo genético, testemunhamos um abuso da ciência na “produção” de embriões para manipulações investigativas. Ao lado disso, quando inúmeros desses embriões “produzidos” são simplesmente descartados, nós presenciamos um genocídio coletivo e herodiano de inocentes, o qual é tão grave como os genocídios que aconteceram na Alemanha nazista e na África. Há quem defenda que a ciência tem a missão de satisfazer as nossas necessidades, mas eles esquecem que precisamos de um padrão para distinguir necessidades genuínas e verdadeiras de necessidades imaginárias e artificiais.
O niilismo também não é solução. Dizer a cada um que eleja os próprios princípios não conforta ninguém por muito tempo. Se os princípios de nossas ações resultam da escolha cega, deixaremos de acreditar neles, pois eles não merecem a devoção de nosso coração e acabam com a nossa noção de responsabilidade. Como disse Leo Strauss, “estamos, então, na posição de seres que são sóbrios e sensatos quando se trata de questões triviais e que jogam como loucos quando são confrontados com questões sérias”.
Precisamos voltar ao fundo de nós mesmos e redescobrir as digitais do criador em nosso ser mais íntimo. Necessitamos relembrar a lei moral que Deus inscreveu em nossa consciência. Devemos olhar outra vez para Jesus como o referencial. Acima de tudo, admitamos as limitações de nossa razão e busquemos auxílio na revelação divina em Jesus Cristo e na Escritura Sagrada. O evangelho transforma o homem e o homem transformado transforma a sociedade!
Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho
O autor foi Coordenador dos Cursos de Direito da Faculdade Gama Filho e da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza, Vice-Coordenador do Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará, Membro do Conselho Ensino Superior da OAB/Ce, Membro da Comissão de Estudos Constitucionais da OAB/Ce. Atualmente, é Coordenador do Curso de Direito da Fametro, Diretor do Instituto Pietista de Cultura e Conselheiro da Associação Moriá de Educação Cristã.
Parabéns pelo artigo. Creio ser de fundamental importância revisar o destino para o qual caminha esta sociedade. O niilismo parece estar infiltrado em quase todos os setores se apresentado de maneaira aceitável usando certos eufemismos.
ResponderExcluirPorém esta sociedade cava a próproa sepultura moral e espiritual e se gloria disso...
Porém em Cristo, podemos dizer.. " Eu era cego e agora vejo..."
Abraços...
Pastor Glauco,
ResponderExcluirPor que Deus testou sua criação? O livre arbítrio não eximiria o homem da pena? Se se concede a liberdade de escolher, por que punir quem escolheu "errado"? E Deus não se regozija com os erros, por ele já sabidos, da sua criação? O cristianismo europeu foi usado como justificativa para o saque e pilhagem das posses dos índios e africanos... E, hoje, no Reino Unido, protestantes subjugam católicos... Onde está a lei moral inscrita por Deus? Amaro.
Prezado Amaro,
ResponderExcluirO livre arbítrio, por definição, implica em responsabilidade moral. Os seres finitos tem liberdade natural dentro dos limites de sua natureza e liberdade moral dentro do contexto de responsabilidade definido pela lei moral. Nós temos a Constituição assegurando o direito de liberdade e os Códigos (Penal, Civil) estabelecendo penas.
Quanto a Deus testar a fidelidade do homem, eu digo que todo relacionamento pessoal (amizade, casamento, pais e filhos) envolve testes de fidelidade. Só não se testa fidelidade em uma "relação" com objetos inanimados. Deus nos fez pessoas e não coisas. Ele quis se relacionar conosco num relacionamento de fidelidade. Ele começou sendo fiel e fazendo promessas, mas o homem não correspondeu.
A Europa e os EUA fizeram muitos males ao restante do mundo, porque a natureza humana é pervertida, principalmente quando tem oportunidade de expressar-se na política. É isso que leva o cristão evangélico clássico a esperar a vinda e o governo de Jesus. No entanto, foram os metodistas que lutaram contra a escravidão negra e grupos puritanos e batistas que lutaram pelas liberdades constitucionais. Os maiores adversários do colonialismo inglês foram os missionários, os quais estiveram ao lado dos povos colonizados na Índia e na África. Nos Estados Unidos, muitos pregadores (como David Brainerd) foram morar com os índios, desistindo até de casarem para lhes falar do amor de Jesus em suas próprias condições de vida. O mesmo aconteceu com muitos missionários na Austrália.
O fato de a lei moral está no coração dos homens não garante que eles vão obedecê-la, mas garante que eles são realmente culpados. Se isso não fosse verdade, você não faria as acusações que mencionou. O complemento que faço é que eu e você somos também culpados e transgressores da lei de Deus, mas Deus enviou Jesus para perdoar você e eu por meio do arrependimento e da fé, bem como para mudar o nosso coração. Para Ele olhai!
Prezado Amaro, você falou em católicos sendo subjugados (?) por protestantes no Reino Unido. Acredito que você queira se referir ao conflito na Irlanda. Partindo dessa premissa, eu lhe ofereço as seguintes informações históricas:
ResponderExcluirOs variados conflitos na Irlanda datam de mais de 500 anos, quando imigrantes britânicos chegaram para colonizá-la. A luta pelo controle político da ilha chegou a uma definição com a vitória do príncipe holandês Guilherme de Orange contra o rei James I na batalha de Royne. Depois disso, houve relativa paz por séculos. Em 1920, houve uma nova luta armada que dividiu a ilha em República de Eire (Irlanda do Sul) e a região autônoma de Ulster (Irlanda do Norte), sendo o Sul menos desenvolvido que o Norte. Feita a divisão, houve meio século de paz.
A guerra foi iniciada não propriamente por católicos ou protestantes, mas pelo IRA (Exército Republicano Irlandês), grupo nominalmente “católico”. Quando estive na Irlanda, eu vi nos bairros aderentes ao IRA uma mistura de símbolos católicos, comunistas e anárquicos.
O IRA começou a luta contra os ingleses em 1916. A partir de 1920 (ano da divisão da Irlanda) viveu na clandestinidade até 1956. Após esse ano, voltou a atacar por técnicas terroristas. Foram desestruturados por forças regulares em 1960. Eles, então, voltaram a agir em 1969 com terrorismo indiscriminado. O IRA se tornou um grupo organizado com poderosa munição e atiradores treinados em Cuba, na Coréia e na antiga Rússia.
O governo da Irlanda do Sul (país católico) também rejeitou o IRA como movimento ilegal, pois o projeto do IRA era unificar as duas partes da Irlanda sob um governo marxista. Na Irlanda do Norte (Protestante), a maioria dos católicos não apóia o Ira, mas, por temor de represália, se torna uma “maioria silenciosa”.
Os protestantes da Irlanda do Norte e muitos católicos têm resistido a idéia de união com a Irlanda do Sul por motivos econômicos (o padrão de vida e os salários no Sul são bem inferiores ao Norte) e ideológicos (a Igreja Católica Romana é a religião oficial e constitucional da República da Irlanda, mas os protestantes querem um Estado cristão aconfessional).
No passado, houve certas injustiças aos católicos na Irlanda do Norte, mas o governo tem procurado reparar isso. Cerca de 52% das casas populares constituídas desde a Segunda Guerra Mundial foram destinadas aos católicos, apesar de representarem apenas um terço da população. Por outro lado, há o que o Bispo Robinson Cavalcanti chamou de “auto discriminação”: “os católicos querem escolas católicas, não aceitando mandar os filhos para as escolas públicas”.
A liberdade dos católicos se revela no fato de que de cinco jornais diários, três são católicos, um é protestante e um é neutro. Diferentemente do que a imprensa internacional diz, os conflitos são localizados e não atingem todo o país e os protestantes extremistas (UDA) são uma minoria.
Como se pode perceber, a guerra irlandesa nunca foi religiosa, mas é uma guerra política com insinuações religiosas. Tudo ficou mais grave com o sensacionalismo da imprensa.
Do ponto de vista positivo, conforme o Bispo Robinson Cavalcanti, “a Irlanda do Norte apresenta o melhor quadro de moralidade e decência das ilhas britânicas, assim como de freqüência às igrejas e de convicções religiosas. A família é mais estável e as tradições mais relevantes... Centenas e milhares de pessoas estão orando em grupos, pela manhã, ao meio-dia ou à noite por um reavivamento espiritual, por uma paz que seja fruto do sopro do Espírito de Deus”.