Rev. Glauco B. Magalhães Filho no Tabernáculo Metropolitano (Londres), a igreja onde Charles H. Spurgeon, pastor batista do século XIX, pregava os seus sermões
O “fundacionalismo clássico” afirma que uma crença deve se justificar em outras crenças até que se possa chegar em proposições apropriadamente básicas (auto-evidentes ou incorrigíveis). A chamada “Teologia Natural” procura encontrar justificativa para a crença em Deus através desse caminho.
De acordo com o filósofo protestante Alvin Plantinga, a perspectiva reformada assumiu um caminho diferente da “Teologia Natural” para falar da existência de Deus, afastando-se do fundacionalismo clássico.
Os reformados defendem a racionalidade da crença em Deus sem apelar para outras crenças ou proposições anteriores. Assim, a crença em Deus seria apropriadamente básica.
O confronto filosófico de Alvin Plantinga, acima de tudo, é com o “indiciarista” que considera a crença em Deus como sendo irracional ou noeticamente inferior por não se basear em indícios suficientes. A idéia de racionalidade da crença evoca a presença de um cânone (norma) a ser satisfeito para justificar a crença. Assim, a crença do intelecto se basearia em uma ética segundo a qual o assentimento deve corresponder aos indícios. Tal posição ignora que a crença em Deus é espontânea e intuitiva e que muitas crenças não estão sob o nosso controle, ou seja, não podemos nos livrar delas simplesmente tentado fazê-lo.
Alvin Plantinga afirma que há certas crenças que não poderiam ser infundadas, pois a experiência juntamente com certas circunstâncias dá a justificação suficiente para adota-las. Tais crenças se expressam em muitas afirmações cotidianas. Eu digo, por exemplo, que alguém está com dores ou zangado porque a pessoa exibe o comportamento típico de quem tem dores ou está zangada. Nesses casos, há uma circunstância que serve como fundamento de justificação. Acerca da questão das circunstâncias, disse Plantinga:
“Se algo me aparece da maneira habitual, mas sei que estou a usar óculos cor-de-rosa, ou que sofro de uma doença que causa o aparecer-me assim, independentemente da cor dos objetos próximos, então não tenho justificação... De igual modo para a memória. Suponha-se que sei que a minha memória não é fiável... Sob estas condições, não tenho justificação para aceitar como básica a crença de que tomei o café da manhã, embora pareça recordar-me que tomei”.[1]
Uma crença só é apropriadamente básica em determinadas condições. Essas condições são o fundamento da justificação. A crença em Deus é básica, mas não é injustificada, pois se justifica por certas condições. Há em nós uma disposição (divinitatis sensum) para atribuir a existência do universo à criação divina e a beleza da natureza ao artífice supremo. O sentimento moral absoluto evoca uma lealdade que atribuímos intuitivamente ao soberano legislador. Depois de errar, ainda que não tenhamos testemunhas visíveis, sentimos uma culpa que nos dá a percepção de responsabilidade perante um juiz onipresente. Ao nos arrependermos, sentimos que fomos perdoados através da crença em um Deus que perdoa. Uma pessoa em perigo se vê logo pedindo socorro a Deus, enquanto a alegria pelo sabor da vida nos conduz a expressões de gratidão que não são dirigidas aos homens.
Há, portanto, várias circunstâncias que chamam a crença em Deus (culpa, perigo, gratidão, deslumbramento ante a criação, etc.) Elas geram proposições (Deus cria, desaprova, perdoa, atc.) apropriadamente básicas nas circunstâncias dadas. De certo modo, não é a crença em Deus que é apropriadamente básica, mas as proposições que discriminam os seus atributos e ações. Tudo isso, porém, é muito consistente com a proposição de que há um Deus e de que fomos criados para viver uma vida de relação com ele.
Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho
Doutor em Sociologia da Religião (UFC)
Doutor em Teologia (Th. D.) - Ethnic Christian Open University
Doutor em Ministério (D. Min.) – Faculdade de Teologia Metodista Livre
Diretor do Instituto Pietista de Cultura (IPC)
[1] Is Belief in God Properly Basic? (Noûs, Vol. 15, No. 1, 1981, pp. 41-51)
Nenhum comentário:
Postar um comentário