Rev. Glauco Filho
No final do século IV, o imperador romano Juliano tentou restaurar o culto pagão como culto de Estado a fim de frear o crescimento do cristianismo. Em uma carta dirigida ao Sumo Sacerdote da Galácia, Juliano falou do motivo que, na sua interpretação, fora a causa de êxito dos cristãos, a quem ele chamava de os “ímpios galileus”. De acordo com Juliano, os ‘ímpios galileus’ “proporcionam alimentos não só aos seus, mas também aos nossos”. Para o Imperador, “o altruísmo feito aos estranhos, a solicitude para dar sepultura aos mortos e a suposta pureza de conduta” dos cristãos” tinham justificado o triunfo de sua mensagem no mundo antigo.
Segundo João Crisóstomo, a comunidade antioquiana, durante o século IV, havia socorrido três mil viúvas e mulheres solteiras, sem falar no que fizera por um grande número de encarcerados, enfermos, incapacitados e mendigos.
Na Idade Moderna, Gerhard Uhlhorn descreveu a antiguidade pagã como um mundo sem misericórdia, o que vem a ressaltar ainda mais a importância da diaconia social do cristianismo.
O Imperador Juliano tentou reverter o crescimento do cristianismo e promover o paganismo por uma estratégia de imitação pagã da diaconia social cristã. Ele recomendou aos sacerdotes pagãos que fizessem a mesma obra social dos cristãos. Obviamente, o seu método não obteve êxito.
Hoje, nós vemos o Estado fazendo muito da obra social (serviços hospitalares, escola pública, merenda escolar, etc.) que outrora foi feita pelas igrejas cristãs. No entanto, as pessoas costumam reclamar da desumanidade e indiferença de médicos e funcionários públicos. O Estado pode criar instituições, mas não pode instilar o amor nas pessoas.
O filósofo neoplatônico Alexandro de Licópolis do Alto Egito atribuiu a vitória cristã no mundo antigo à prática da exortação ética. Os filósofos gregos consideravam o homem bom, mas ignorante. Eles, então, procuravam desenvolver pensamentos teóricos sobre o bem e a virtude para esclarecer os seus concidadãos. Não tiveram êxito. Os cristãos partiam do pressuposto de que o homem era mau (por causa da queda adâmica) e de que cada um sabia o que era certo e errado em sua consciência. Em suma, o homem era transgressor e não ignorante. Assim, os cristãos exortavam os homens ao imediato arrependimento, assegurando-lhes o perdão pela fé na obra expiatória de Cristo na cruz.
Porfírio, um discípulo de Plotino (não cristão), observou que a possibilidade de perdão para uma vida passada com desmandos, bem como a promessa de uma nova vida pelo poder do evangelho, atraiu para o cristianismo os que vinham da prostituição, do adultério, da embriaguez, do latrocínio, do homossexualismo, etc. A mensagem cristã atraiu os delinqüentes marginalizados pela sociedade.
Os filósofos que desdenhavam do cristianismo do ponto de vista teórico ficavam admirados com a certeza de salvação exibida pelos cristãos na hora do martírio. Foi essa admiração que levou o filósofo Justino à conversão.
Orígenes, mestre da igreja antiga, disse que a mensagem do evangelho tinha em si mesma um poder de convencimento, comoção e transformação através da obra do Espírito Santo. Por esse motivo, o cristianismo cresceu tão poderosamente. Essa afirmação também seria feita por Lutero para explicar a fenomenal propagação da Reforma do século XVI.
Lucien Jerphagnon disse que a religião pagã de Roma era apenas doméstica e política, o que deixava um vazio nas outras áreas da vida. A filosofia procurava ocupar esse espaço. A religião cristã, porém, alcançava o homem por inteiro e em todas as áreas de sua vida. A religião pagã era ritualística e formal, mas o evangelho apresentava “um Deus sensível ao coração” (Pascal), “a transcendência personificada” (Luc Ferry). Isso era muito diferente do frio “primeiro motor” de Aristóteles.
O Deus cristão se encarnara e entrara na história humana, participando de seus sofrimentos e aflições. Tudo isso fora feito com o fim de fazer provisão para a salvação de todos e de cada um. Nada poderia se comparar a essa valorização da pessoa humana e a essa manifestação inédita de amor.
No cristianismo, o sacrifício pagão de animais foi substituído pelo “sacrifício” de si mesmo, uma entrega incondicional do homem ao senhorio de Cristo.
Precisamos de um avivamento da fé cristã! Eu não me refiro a esse pseudocristianismo formal, supersticioso, mundano e rotinizado. Eu me refiro ao cristianismo legítimo, o qual pode restaurar a sociedade.
Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho
Doutor em Sociologia (UFC)
Pós-Graduado em Teologia Histórica e Dogmática (FAERPI)
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