Prof. Glauco Filho em frente a uma igreja histórica da Reforma Protestante em Zurique (Suiça)
“O fato de que não posso evitar o mal que vem dos homens cujos princípios condeno não me obriga a ajudá-los ou aplaudi-los” (G. Groen Van Prinsterer)
Nietzsche anunciou a “morte” de Deus no Ocidente, prognosticando a morte do homem como a sua consequência. O que o “profeta do nazismo” queria dizer era que a concepção ocidental de homem estava diretamente ligada ao teísmo.
No Ocidente, a crença judaico-cristã na presença da imagem de Deus no homem teve muitas consequências. Do ponto de vista religioso, ela reconheceu a imortalidade da alma e a lei moral inscrita na consciência. Do ponto de vista filosófico, fez a diferença entre o homem e o animal ser qualitativa e não meramente quantitativa. No campo jurídico, possibilitou o desenvolvimento da idéia de dignidade da pessoa humana e dos direitos fundamentais.
O declínio da influência cristã no Ocidente, chamada de “morte de Deus” por Nietzsche, está produzindo a “morte” do homem como conhecemos. O ser humano passa a ser visto como um fruto do acaso, da evolução seletiva. A sua distinção do animal passa a ser vista como quantitativa (maior complexidade) e não qualitativa. Dentro desse escopo, a alma fica reduzida ao cérebro e a liberdade se transforma em ilusão. A moral passa a ser vista como opressão e a livre expressão dos instintos passa a ser recomendada. Não há mais um motivo radical para se falar em dignidade da pessoa humana, enquanto os direitos fundamentais são considerados apenas uma criação da cultura ocidental.
Com a morte da concepção cristã de homem, surge uma cultura de destruição. A filosofia vira desconstrutivismo, enquanto verdade e o bem perdem o seu significado. A vida humana é esvaziada de seu valor e o aborto juntamente com a eutanásia e o suicídio assistido passam a ser defendidos com ardor. Dietrich Bonhoeffer assistiu isso acontecer no nazismo e chamou esse processo de “nadificação”.
O filósofo judeu Hans Jonas disse que a lei moral exige maior proteção para o mais fraco, observando que a vida humana é mais frágil nas fases seminal e terminal. Assim, o embrião e o velho são os que mais precisam de proteção. A atual sociedade, porém, tendo reduzido o humano ao nível animal, pode justificar, ao lado de Nietzsche, que o mais forte destrua o mais fraco, assim como o lobo faz com as ovelhas.
Essa sociedade “nadificada” não se incomoda com contradições, pois a lógica também é vista como uma invenção ocidental ou um produto superável do percurso da evolução. Assim, as feministas defendem o aborto generalizado no Ocidente, mas combatem o aborto seletivo de crianças do sexo feminino no Oriente. Uma associação americana não vê contradição entre a sua apologia do aborto e o seu combate à matança de filhotes de foca. A Inglaterra não percebe que, ao descartar milhares de embriões humanos congelados, pratica um genocídio coletivo tão grave como os que aconteceram na Alemanha nazista e na África.
Agora, os aleijados e deficientes são vistos como um peso social. Na Europa, o aborto eugênico tem sido praticado e crianças nascidas com certas anomalias têm sido sacrificadas impiedosamente ao nascer. Não é de admirar que nessa Europa decadente cresça também o tráfico de mulheres estrangeiras para a escravidão no mercado sexual, enquanto no Terceiro Mundo prolifera o trabalho escravo nas grandes fazendas.
Heinrich Heine e Carl Jung anunciaram que o declínio do cristianismo na Alemanha despertaria o espírito bárbaro e pagão dos antigos germanos. Foi o que aconteceu através do nazismo. Hoje, nós vemos a televisão apresentar torneios de luta livre com os festejos da população. As lutas são muito mais violentas e sanguinárias que o boxe. Estamos vendo uma volta aos gladiadores do paganismo romano.
Por fim, gostaria de falar dos esportes radicais, os quais fazem do perigo uma diversão, estimulando a adrenalina pela aproximação da desgraça. Aqui, devemos nos lembrar que Satanás tentou Jesus no deserto, convidando-o a pular de um lugar alto baseado na promessa de que os anjos não lhe permitiriam tropeçar em alguma pedra. Jesus, porém, respondeu: “Não tentarás ao Senhor, teu Deus!”.
Nas “Memórias de Pickwick” de Charles Dickens, o sábio e bom Samuel Pickwick diz:
“- Meu amigo – disse Pickwick – eu adoro todas as competições desportivas, inofensivas e lícitas, onde não corra perigo a vida humana, que é o mais precioso dos dons”.
Durante o nazismo, o teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer observou que os que defendiam na Alemanha a vida (dentro de uma visão humanitária) se aproximavam espontaneamente da igreja evangélica. Naquelas horas agonizantes, o cristianismo oferecia uma visão mais elevada de todos os homens.
A nossa oração é para que os que defendem a dignidade da vida e da pessoa humana nesses dias vejam na aproximação com o cristianismo o caminho para fortalecer a sua própria posição!
Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho
Mestre em Direito Público (UFC)
Doutor em Sociologia (UFC)
Livre Docente em Filosofia (UVA)
Doutor em Ministério (Faculdade de Teologia Metodista Livre)
Pós-Graduado em Teologia Histórica e Dogmática (FAERPI)
Professor da UFC e Coordenador do Curso de Direito da Fametro
Professor da FTUFor e Diretor do Instituto Pietista de Cultura
Membro da Academia Cearense de Letras Jurídicas
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