Nós vivemos em uma sociedade consumista, globalizada e capitalista. Todas esses elementos caracterizadores de nossa época criam possibilidades de amargura e tristezas para as quais se espera que comunidades, como a igreja, sejam abrigo curativo e restaurador.
A lógica do capitalismo está baseada na concorrência. Ele alimenta a competitividade nos vários espaços da vida social (financeiro, cultural, político, profissional, etc). Tal situação pode causar uma busca egoística por sucesso que, desrespeitando as regras da lealdade, desconsidera os laços de solidariedade e eticidade. Nesse contexto, o “outro” pode ser visto como um obstáculo a ser superado. Isso pode alimentar um espírito de desconfiança recíproca, bem como pode criar complexos de inferioridade e ressentimentos naqueles que não galgaram as posições que desejavam.
A solidariedade deve temperar o espírito competitivo no capitalismo. Assim, o Estado e a sociedade devem multiplicar as possibilidades de emprego e crescimento pessoal. Os que são bem sucedidos socialmente devem enxergar as suas posições como posições de serviço a favor dos demais membros da sociedade. Cabe as comunidades terapêuticas mostrar que as carreiras prestigiadas pela sociedade em dado momento não são as únicas possibilidades de realização. Há inúmeras outras opções existentes, além de ser possível que a inventividade e a criatividade humana criem novos caminhos.
É preciso desvincular a noção de realização da noção de amplo sucesso econômico, mostrando que a vocação e o serviço são mais importantes para uma consciência feliz do que o enorme saldo positivo no cálculo de perda e ganho. A vida moderada quanto aos gastos pode render mais para o que é realmente útil. A existência de mais tempo para a família pode ser mais saudável do que o corre-corre desenfreado por uma prosperidade ascendente, mas nunca satisfatória.
O consumismo, por outro lado, valendo-se do poder tecnológico e da força da mídia cria pseudonecessidades, gerando uma demanda pelo supérfluo. Os que não possuem as coisas do último modelo se ressentem de sua condição e invejam os que possuem mais. Assim, a competitividade alimenta o desejo por mais status e capital ao mesmo tempo em que o mercado solicita esse capital para manter o status. O que entra por uma porta sai pela outra.
Na sociedade de consumo, a figura do consumidor substitui a do cidadão. O sujeito vale pelo que compra e não pela sua dignidade intrínseca de ser humano. Na realidade, o sujeito vira objeto e o mercado vira sujeito. Tal situação coloca os que não podem comprar muito como cidadãos de segunda classe, além de estimular muitos a acumular dívidas tentando exibir um estilo de vida que não condiz com as suas possibilidades econômicas.
A igreja cristã deve ser o lugar onde o homem aprende que é criado à imagem de Deus e que sua medida suprema de valor está no fato de Jesus ter escolhido morrer por ele. Contra a sociedade de consumo, a igreja deve ensinar que se sujeitar à força da propaganda e às exigências contínuas das novas modas mercadológicas é aumentar o grau de dependência e tomar um fardo que diminui a liberdade. Desse modo, a liberdade e o contentamento andam juntas. O verdadeiro ascetismo cristão não busca sufocar a liberdade, mas, sim, libertar-se das superfluidades para maximizar a liberdade.
A prosperidade deve andar junta com a liberalidade e a solidariedade. O melhor investimento é fazer amigos com os nossos bens e não perder amigos por amor aos bens. Por outro lado, nós observamos que “fazer amigos” não é escravizá-los com as nossas dádivas, fazendo com que se tornem nossos eternos devedores. Quando queremos comprar lealdade com bens não ganhamos amigos, mas coisificamos pessoas, tentando colocá-las entre as nossas propriedades.
A sociedade em que vivemos também é globalizada e informatizada. Os contatos face a face diminuem na medida em que o outro vira uma imagem virtual. A massificação cria o anonimato e fazer coisas exóticas que não revelam o melhor de cada um torna-se a maneira de obter visualização.
A igreja deve lembrar ao mundo que não somos apenas “números” para Deus, pois ele conhece a cada ser humano pelo nome e tem a conta dos fios de cabelo em sua cabeça. Não precisamos fazer “estripulias” para sermos vistos por Deus. Jesus já fez na cruz o que era necessário, algo que ninguém poderia fazer, a coisa mais excepcional que se poderia imaginar. Ele não morreu e ressuscitou para ser visto pelo Pai, mas para que nós pudéssemos ser vistos, para que recebêssemos o espírito de adoção de filhos.
Jesus é a cura para essa geração. A igreja será uma comunidade terapêutica se souber anuncia-lo, fazendo-o presente.
Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho
Professor do Mestrado e Doutorado em Direito da UFC
Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho
Professor do Mestrado e Doutorado em Direito da UFC
Olá
ResponderExcluirParabéns pelo blog, muito lindo. Gostei da frase: "A existência de mais tempo para a família pode ser mais saudável do que o corre-corre desenfreado por uma prosperidade ascendente, mas nunca satisfatória." Que Deus continue te usando. Um forte abraço.
Saudações,Parabéns pelo artigo.
ResponderExcluirQuando deixarmos a condição de ouvintes da palavra de Deus e nos tornarmos verdadeiros discípulos do cristo vivo jesus, estaremos verdadeiramente construindo uma igreja transformadora.
Prof: Cleandro dos Santos.
So seremos verdadeira igreja quando deixarmos de preocupar com a construção de templos de Pedras,para construirmos laços de afetos, quando vermos e respeitarmos o próximo como o bom samaritano
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