A principal característica dos puritanos ingleses do século XVII era a simplicidade. O orgulho era associado ao crime de Satanás, enquanto a humildade era a condição indispensável para ter a presença e a assistência de Deus. Correlata a essa humildade estava a paixão pela glória divina.
A
simplicidade dos puritanos era expressa tanto na forma de culto como numa
devoção singela baseada na Bíblia, na oração e na ceia do Senhor. Eles também
eram simples no seu modo de vestir e de se apresentar. Com certeza, não
veríamos entre eles um pregador de cabelos tingidos, nem uma mulher escondida
atrás de uma máscara de maquiagem e jóias. Havia, portanto, coerência na
relação entre a vida e os princípios.
O
jurista Ronald Dworkin inspirou-se na integridade protestante para defender a
sua teoria do “Direito como Integridade”:
“Torna-se
uma idéia mais impregnada da noção protestante de fidelidade a um sistema de
princípios que cada cidadão tem a responsabilidade de identificar, em última
instância para si mesmo, como o sistema da comunidade à qual pertence”. (O
Império do Direito,SP: Martins Fontes, 1999, p.231).
Thomas
Watson, notável ministro puritano, disse em um livro intitulado “A DOUTRINA DO
ARREPENDIMENTO”, publicado em 1668:
“Arrependam-se
de suas vãs modas. É estranho que as vestes que Deus dá para cobrir a vergonha
desvendem o orgulho. Os piedosos não estão obrigados a conformar-se a este
mundo (Rom. 12: 2). As pessoas do mundo geralmente são pomposas e levianas em
sua maneira de vestir-se. Hoje em dia é moda ir para o inferno. Mas, seja o que
for que outros façam, contudo, ‘ó Judá, não se faça culpado’(Oséias 4: 15). O
apóstolo estabeleceu que tipo de veste exterior os cristãos devem usar: ‘traje
honesto, com pudor e modéstia’ (I Tim. 2: 9); e que tipo de roupa interior:
‘revesti-vos de humildade’ (I Pedro 5: 5)”.
Hoje, vejo
pregadores que se dizem admiradores dos puritanos, mas, em seus sermões triunfa
a forte projeção de suas personalidades. Falam de forma esnobe, exibindo
conhecimentos de teologia acadêmica sem o calor de uma vida de oração, enquanto
as mulheres se preparam para ir à igreja com o mesmo espírito que uma “madame”
se apronta para um evento social mundano. Mais adiante, no livro já citado,
Thomas Watson disse:
“As
mulheres israelitas que passavam uma hora vestindo-se diante do espelho com
orgulho, depois ofereceram os seus espelhos para uso e serviço do tabernáculo
de Deus, como uma forma de vingança por seu pecado (Êxodo 38: 8)”.
No
ambiente jurídico, a ostentação é institucionalizada. Passam a idéia de que sem
ela não haverá oportunidades profissionais. A vaidade e a soberba corrompem
esse ambiente social. As pessoas precisam ter “carrões” (ainda que tenham que
alugar) e de ternos da melhor marca para parecerem “alguma coisa”. Os cristãos,
porém, não podem cair nesta cilada do diabo, confundindo o mundo das aparências
com o mundo real.
Richard
Baxter, pastor puritano que viveu de 1615 a 1691, disse em seu livro
“Directions and Persuasions to a Sound Conversation”:
“A
humilhação também deve ser expressa através de todos aqueles meios e sinais
externos, aos quais Deus nos conclama, seja por meio das Escrituras ou da nossa
própria natureza. Por exemplo: lágrimas e gemidos, tanto quanto oportunamente
nos ocorra; o jejum e a atitude de prostrar-nos em virtude de nossa pompa e
frivolidades mundanas; pelo uso de roupas simples, porém decentes;
condescendendo com os menos favorecidos e se sujeitando aos mais humildes”.
Talvez
eu perca a simpatia de alguns cristãos professos pelo que escrevo, mas não
podemos perder mais tempo, pois saímos demais do rumo. Não uso a minha própria
autoridade no falar, mas, sim, a autoridade das Escrituras, apelando para
interpretação coincidente de homens santos do passado, os quais dizemos admirar
em nossas igrejas.
Rev.
Glauco Barreira Magalhães Filho
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