No livro “Cartas de um Diabo a
seu aprendiz”, na carta 27, C. S. Lewis mostra a conciliação da onisciência de
Deus com o livre-arbítrio humano, rejeitando a doutrina determinista
(calvinista) da predestinação.
O
Diabo fala a seu aprendiz da dificuldade que têm seres humanos de entenderem
que Deus está fora do tempo, ou seja, em um eterno presente que compreende e
excede o nosso presente, passado e futuro. Desse modo, o homem, persistindo em
ver erroneamente Deus no tempo (sucessão), imagina a presciência como previsão
e predestinação. Ao levar a sério essa errada crença, ele desanima de orar com
fervor.
Diz o Diabo a
seu aluno:
“Mas lembre-se de que ele (o homem) dá como certo que o Tempo é a realidade
suprema. Ele supõe que o Inimigo (Deus) ,
assim como ele próprio, vê certas coisas como o presente, lembra-se de outras
como o passado e antecipa outras mais como futuro”.
O
Diabo, então, mostra que não adiantaria alguém explicar a esse homem que a
onisciência é conciliável com o livre-arbítrio, pois ele só compreende a presciência
como predestinação:
“... Ele (o homem) não acredita realmente (embora talvez diga que sim) que as coisas são
como o Inimigo as vê! Se você tentasse explicar para ele que as preces dos
homens no dia de hoje são uma das inúmeras coordenadas utilizadas pelo Inimigo (Deus) para harmonizar o dia de amanhã, ele
replicaria que, de qualquer modo, o Inimigo (Deus) sempre soube que os homens
iriam fazer essas preces e, sendo assim, eles não oraram livremente, mas
estavam predestinados a orar.”
O
Diabo é, então, obrigado a confessar que o amor divino reservou espaço para o
livre-arbítrio humano:
“Por que esse ato criador deixa espaço para
o livre-arbítrio deles é o maior de todos os problemas, o segredo que está por
trás de toda essa lengalenga do Inimigo em relação ao Amor... pois o Inimigo (Deus) não PREVÊ como os humanos irão contribuir
para o futuro com o seu livre-arbítrio, mas OBSERVA os atos deles no Presente
Totalmente Livre de que dispõem. E, claro, observar um homem fazendo algo não
significa forçá-lo a fazer tal coisa”.
Para
Lewis a ignorância dos escritos de autores cristãos antigos produziu os erros
modernos quanto a esse assunto. Diz o Diabo:
“Poderíamos dizer que alguns escritores
humanos bastante intrometidos, principalmente Boécio, acabaram revelando esse
segredo. Mas, devido ao clima intelectual que finalmente conseguimos produzir
em toda a Europa ocidental, você não precisa se preocupar com isso. Só os
eruditos lêem livros antigos, e nós já demos tal jeito neles que, de todos os
homens, eles são os menos capazes de adquirir sabedoria ao ler tais livros”.
Voltemos,
portanto, ao bom senso e abandonemos o determinismo antibíblico! Deus sabe o
que farei amanhã, não porque determinou, mas porque já me observou praticando
desde o seu eterno presente. As minhas orações de hoje influenciam a ação de
Deus no amanhã, mas o meu hoje e o meu amanhã são para Ele sempre um presente
consumado. Não confundamos atributos naturais de Deus (Atemporalidade,
Onisciência) com o determinismo.
Dr. Glauco Barreira Magalhães
Filho
Doutor em Sociologia da Religião
Doutor em Teologia
Doutor em Ministério
Livre Docente em Filosofia
Já percebi isso nos calvinistas, confundem de maneira assombrosa a onisciência de Deus com predestinação. Realmente é lamentável. Era só dar uma olhada no dicionário...
ResponderExcluirExcelente texto.
Nossa, destruiu quase dois mil anos de teologia com um simples comentário, ta de parabéns Josinaldo, comece a dar aula!
Excluirkkkkkkk
ExcluirSou mais inclinado para a teologia calvinista, nem tanto pela questão da predestinação, mas por achar que o cristão verdadeiramente nascido de novo não se perde eternamente, mas entendo PERFEITAMENTE os motivos e razões da teologia arminiana porque sei que são dois mil anos de discussão teológica em torno desse assunto que realmente não é tão fácil de entender a soberania de Deus com a nossa responsabilidade. No final de tudo creio que é um mistério e o que prevalece é buscarmos o Senhor Jesus de todo o coração!
ExcluirTambém cremos na perseverança dos santos
ExcluirEntão, o que faço com João 15.16. Efésios 1.5
ResponderExcluirProvérbios 16.4. Vamos debater o assunto, respeitar a posição do colega ... Mas, afirmar que nesse argumento da história de um diabo, superar 2000 de história ai é difícil de engolir.