CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE

Seja bem-vindo a "CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE". Aqui procuraremos apresentar artigos acerca de assuntos acadêmicos relacionados aos mais diversos saberes, mantendo sempre a premissa de que a teologia é a rainha das ciências, pois trata dos fundamentos (pressupostos) de todo pensamento, bem como de seu encerramento ou coroamento final. Inspiramo-nos em John Wesley, leitor voraz de poesia e filosofia clássica, conhecedor e professor de várias línguas, escritor de livros de medicina, teólogo, filantropo, professor de Oxford e pregador fervoroso do avivamento espiritual que incendiou a Inglaterra no século XVIII.

A situação atual é avaliada dentro de seus vários aspectos modais (econômico, jurídico, político, linguístico, etc.), mas com a certeza de que esses momentos da realidade precisam encontrar um fator último e absoluto que lhes dê coerência. Esse fator último define a cosmovisão adotada. Caso não reconheçamos Deus nela, incorreremos no erro de absolutizar algum aspecto modal, que é relativo por definição.

A nossa cosmovisão não é baseada na dicotomia "forma e matéria" (pensamento greco-clássico), nem na dicotomia "natureza-graça" (catolicismo), nem na "natureza-liberdade" (humanismo), mas, sim, na tricotomia "criação-queda-redenção" (pensamento evangélico).

ESTE BLOG INICIOU EM 09 DE JANEIRO DE 2012





quinta-feira, 21 de julho de 2016

ENTREVISTA COM O DR. GLAUCO BARREIRA MAGALHÃES FILHO SOBRE DIREITOS HUMANOS E REDES SOCIAIS - JORNAL DA UFC






A equipe do Jornal da UFC (Universidade Federal do Ceará) entrou em contato comigo (Prof. Glauco Barreira Magalhães Filho) a fim de que eu respondesse a algumas perguntas para posterior edição de uma matéria sobre direitos humanos (publicada em Julho/2016). Como muito pouco do que respondi apareceu no artigo, aproveito a oportunidade para compartilhar o conteúdo completo da entrevista nesse espaço:

PERGUNTAS:

1)         A que a senhor atribui esta ampliação (ou aparente ampliação) dos casos de transgressão aos direitos humanos dentro da Universidade?

RESPOSTA: Acredito que sempre houve agressões nas Universidades. Os trotes violentos, por exemplo, eram mais comuns no passado do que hoje. Atualmente, porém, enfrentamos um problema específico, o questionamento da corrente hegemônica (herdeira do marxismo e, depois, da filosofia pós-moderna) nos meios acadêmicos brasileiros. Através da internet e pelo conhecimento de outras visões alternativas, muitas pessoas começaram a discordar dessa corrente, expressando corajosamente as suas opiniões. Os que defendiam a visão prevalecente, por sua vez, não estavam preparados para lidar com uma contestação do que parecia ser o “senso comum” acadêmico. Para aumentar a tensão, a hostilidade de um lado produziu hostilidade do outro.



2)         Como vê essa nova realidade, em que acontecimentos ganham rapidamente repercussão nas redes sociais. É positiva, no sentido de levantar estas discussões? É negativa, por estas serem também um outro dispositivo no qual se propagam preconceitos e injúrias?

RESPOSTA: As redes sociais são um veículo de comunicação importante e igualitário. Faz com que os acadêmicos percam seus privilégios diante da nivelação com o homem comum. É inclusiva. Não há como impedir a precipitação de opiniões.  É preciso apenas uma pessoa falar para desencadear uma discussão com aqueles que ainda estavam amadurecendo idéias. O que podemos incentivar é a humildade, a prontidão para mudar de opinião quando convencido. É importante também evitar os xingamentos, exibições de superioridade e agressões aviltantes. Elas criam inimizades, preconceitos e bloqueiam a comunicação e o mútuo convencimento.

3)         A temática dos direitos humanos é suficientemente discutida dentro do meio acadêmico?

RESPOSTA: Acredito que sim, mas de modo superficial. Os direitos humanos são “Bíblia” da sociedade secularizada. Mas, assim como a Bíblia é o livro mais vendido e menos lido, os direitos humanos são muito mencionados, mas pouco compreendidos. A grande problemática é que muitos querem desvinculá-los de sua raiz de origem. Pretendem desprezar a tradição que os originou (greco-romana e judaico-cristã) para pensá-los como fórmulas vazias aptas a recepcionar qualquer nova ideologia ou modismo intelectual. Os direitos comportam gerações ou dimensões, mas dentro da lógica em que foram originalmente pensados. Uma dimensão aprofunda, mas não extingue a outra. Não adianta falar em direitos humanos sem o pano de fundo histórico e filosófico (noção de Direito Natural) do qual brotaram.

4)         Como estimular a cultura de paz e tolerância dentro da Universidade?

RESPOSTA: Garantindo a ampla liberdade de expressão e difusão das idéias, mas estimulando o respeito mútuo e a linguagem cortês. Não precisamos ser relativistas quanto à verdade para respeitar o outro. Aliás, a tolerância se torna uma virtude real quando acreditamos que o outro está errado, procuramos convencê-lo disso, mas, ainda assim, somos respeitosos. A tolerância tem que ser a ética do respeito ao próximo, não a fraqueza dos que não acreditam em mais nada. Dentro desse escopo, temos que diferenciar opiniões sobre fatos e atos de agressões pessoais.

3) Em um momento em que casos de racismo, homofobia e machismo no meio universitário ganham repercussão dentro da Universidade, como vê a criação da Comissão de Direitos Humanos?

RESPOSTA: Em uma sociedade com tanta droga, desagregação familiar e desorientação psicológica, todo tipo de violência ocorre contra todo o tipo de pessoa. Devemos garantir que todos sejam humanamente tratados, sem criar guerras entre facções ideológicas. Desse modo, grupos que vivem em tensão entre si não podem culpar estrategicamente o outro quando houver alguma agressão a um dos seus membros. Não podemos usar a dor das pessoas para brigas ideológicas, fazendo delas um “caso paradigmático”. O amor faz do homem a sua “causa” em vez de usar o homem para alguma “causa”. Quando uma pessoa pertence a uma categoria que se representa por movimentos sociais, a agressão que sofre torna-se um problema público. Se, porém, ela não se insere em categoria que tenha mobilização, o seu sofrimento ainda é pior, pois é solitário. Inúmeras pessoas, por exemplo, são diariamente excluídas e maltratadas por sua moral familiar, fé ou condição social. A Comissão de Direitos Humanos é importante para colóquios frutíferos, devendo, porém, manter-se distante da política partidária e de tentativas de seqüestrar os direitos humanos para uma visão segmentaria. O grande desafio é valorizar o ser humano enquanto humano.

Prof. Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho (Mestre em Direito, Doutor em Sociologia e Livre Docente em Filosofia do Direito)
Professor da Faculdade de Direito da UFC das disciplinas Hermenêutica Jurídica e Aplicação do Direito (Graduação) e Estudos do Imaginário Jurídico (Mestrado e Doutorado em Direito).

5 comentários:

  1. Respostas muito lúcidas, professor Glauco. A universidade precisa voltar a ser um ambiente de ideias e de respeito, em que a preocupação não deve ser a vaidade ou o reducionismo ideológico, mas a busca da verdade. Grande abraço,

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  2. Como sempre qualquer comentário do nobre professor é, para todos os efeitos, uma aula brilhante!

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  3. Como sempre qualquer comentário do nobre professor é, para todos os efeitos, uma aula brilhante!

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