O filósofo reformado Herman
Dooyeweerd mostrou em seu pensamento cosmonômico que a melhor concepção de
Estado não é a do marxismo nem do liberalismo desenfreado. Seguem as suas
lúcidas palavras sobre o assunto:
“O processo de
racionalização técnica ilimitado e unilateral na vida industrial economicamente
qualificada aguçou o contraste entre os interesses do trabalho e do capital até
transforma-los numa verdadeira luta de classes. O trabalho foi visto à parte da
personalidade humana como um utensílio de mercado, e nas fábricas a comunidade
de trabalhadores foi afetada em alto grau pelo ponto de vista exclusivamente
individualista e contratual. A competição ilimitada no mercado fez com que a
caracterização hobesiana do estado de natureza, como uma condição do homo
homini lúpus (´o homem é o lobo do homem´), fosse uma terrível realidade.”
“Na medida em
que as estruturas sociais interindividuais são indissoluvelmente entrelaçadas
com aquelas dos relacionamentos institucionais, a família e os vínculos de
parentesco, assim como o Estado, também foram afetados por esse processo
mórbido de doença na ‘sociedade livre’. Grupos sociais para a promoção de interesses privados tentaram se apossar
do poder político para tornar a instituição do Estado subserviente aos seus
interesses sociais. O fator de interesse econômico privado e a perniciosa
ideologia do dogma da luta de classes penetraram o sistema político partidário.
A vida familiar e os vínculos de parentesco dos trabalhadores foram
desnaturados pela usurpação das relações industriais, racionalizadas de modo
impessoal. Nas relações políticas internacionais, o ´egoísmo sagrado´ dos
Estados separados foi elevado à categoria de lei máxima."
"Tais tendências individualistas
no desenvolvimento social formam uma antítese irreconciliável com a idéia
cristã das relações internacionais livres. A ´civitas terrena´ revelou-se nesse
processo individualista de desintegração, e o cristianismo foi condenado à
decadência sempre que pensou em fazer uma trégua, ou um tratado de paz, com
esse reino de trevas” (A NEW CRITIQUE OF THEORETICAL THOUGHT. Amsterdã e
Filadélfia: 1957, Vol. III, p. 596).
Dr. Glauco Barreira Magalhães
Filho
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