segunda-feira, 25 de julho de 2016

HERMAN DOOYEWEERD: SUPERAÇÃO DO INDIVIDUALISMO E DA LUTA DE CLASSES NA VISÃO REFORMADA DO ESTADO


O filósofo reformado Herman Dooyeweerd mostrou em seu pensamento cosmonômico que a melhor concepção de Estado não é a do marxismo nem do liberalismo desenfreado. Seguem as suas lúcidas palavras sobre o assunto:


“O processo de racionalização técnica ilimitado e unilateral na vida industrial economicamente qualificada aguçou o contraste entre os interesses do trabalho e do capital até transforma-los numa verdadeira luta de classes. O trabalho foi visto à parte da personalidade humana como um utensílio de mercado, e nas fábricas a comunidade de trabalhadores foi afetada em alto grau pelo ponto de vista exclusivamente individualista e contratual. A competição ilimitada no mercado fez com que a caracterização hobesiana do estado de natureza, como uma condição do homo homini lúpus (´o homem é o lobo do homem´), fosse uma terrível realidade.”
“Na medida em que as estruturas sociais interindividuais são indissoluvelmente entrelaçadas com aquelas dos relacionamentos institucionais, a família e os vínculos de parentesco, assim como o Estado, também foram afetados por esse processo mórbido de doença na ‘sociedade livre’. Grupos sociais para a promoção  de interesses privados tentaram se apossar do poder político para tornar a instituição do Estado subserviente aos seus interesses sociais. O fator de interesse econômico privado e a perniciosa ideologia do dogma da luta de classes penetraram o sistema político partidário. A vida familiar e os vínculos de parentesco dos trabalhadores foram desnaturados pela usurpação das relações industriais, racionalizadas de modo impessoal. Nas relações políticas internacionais, o ´egoísmo sagrado´ dos Estados separados foi elevado à categoria de lei máxima."
          "Tais tendências individualistas no desenvolvimento social formam uma antítese irreconciliável com a idéia cristã das relações internacionais livres. A ´civitas terrena´ revelou-se nesse processo individualista de desintegração, e o cristianismo foi condenado à decadência sempre que pensou em fazer uma trégua, ou um tratado de paz, com esse reino de trevas” (A NEW CRITIQUE OF THEORETICAL THOUGHT. Amsterdã e Filadélfia: 1957, Vol. III, p. 596).


Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho

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