CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE

Seja bem-vindo a "CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE". Aqui procuraremos apresentar artigos acerca de assuntos acadêmicos relacionados aos mais diversos saberes, mantendo sempre a premissa de que a teologia é a rainha das ciências, pois trata dos fundamentos (pressupostos) de todo pensamento, bem como de seu encerramento ou coroamento final. Inspiramo-nos em John Wesley, leitor voraz de poesia e filosofia clássica, conhecedor e professor de várias línguas, escritor de livros de medicina, teólogo, filantropo, professor de Oxford e pregador fervoroso do avivamento espiritual que incendiou a Inglaterra no século XVIII.

A situação atual é avaliada dentro de seus vários aspectos modais (econômico, jurídico, político, linguístico, etc.), mas com a certeza de que esses momentos da realidade precisam encontrar um fator último e absoluto que lhes dê coerência. Esse fator último define a cosmovisão adotada. Caso não reconheçamos Deus nela, incorreremos no erro de absolutizar algum aspecto modal, que é relativo por definição.

A nossa cosmovisão não é baseada na dicotomia "forma e matéria" (pensamento greco-clássico), nem na dicotomia "natureza-graça" (catolicismo), nem na "natureza-liberdade" (humanismo), mas, sim, na tricotomia "criação-queda-redenção" (pensamento evangélico).

ESTE BLOG INICIOU EM 09 DE JANEIRO DE 2012





sábado, 27 de outubro de 2012

PROTESTANTISMO, CONSUMISMO E PROSPERIDADE

Na Idade Média, de acordo com o sociólogo Norbert Elias, os reis e os nobres faziam questão de viver em ostentação para evidenciarem a grandeza e o status social. A poupança e a contenção de gastos eram vistas como coisas ligadas às classes mais baixas pela necessidade (não pela virtude). Por esse motivo, a monarquia e a nobreza faliram. Em tempos de crise, apesar de faltar dinheiro na corte, o rei e os nobres não queriam viver modestamente, pois isso estava em desacordo com o código social vigente para eles. Eles, então, passavam a gastar mais do que tinham somente para manter a aparência de grandeza, o que ocasionava a ruína de ambos.
            Com a Reforma Protestante veio uma nova mentalidade. Os protestantes consideravam a poupança uma virtude, pois representava a interdição do gasto supérfluo. Para os crentes, o gasto suntuoso era classificado como vício individual e falta de discernimento, enquanto a racionalização dos gastos e a moderação dos desejos foram vistas como virtudes.
            Os protestantes reconheciam que o erro de Esaú, que trocara o direito de primogenitura por um prato lentilhas, fora o de não moderar os desejos. Jacó teria sido mais sábio, pois soube planejar o futuro e adiar inúmeros prazeres pequenos em troca de recompensas mais promissoras. Para os protestantes, essa ética econômica deveria reger tanto o rico como o pobre. Não seguia uma lógica de necessidade, mas uma lógica de virtude.
            A mentalidade protestante possibilitou o acúmulo seguido do investimento produtivo, o que fez prosperar tanto o crente como sua nação. A burguesia em ascensão, ao ver que o modo de vida protestante dava resultados econômicos satisfatórios, fez uso estratégico desse modo de vida para prosperar em seus negócios. O protestante não pensava em riqueza, mas na virtude. A burguesia, porém, pensou no ethos protestante como um modo de prosperar.
            Hoje, o protestantismo bíblico e clássico entrou em declínio. Apenas a casca denominacional parece remanescer. A burguesia, por outro lado, logo que obteve a prosperidade desejada, abandonou a continência financeira dos protestantes para aderir ao costume consumista dos nobres medievais. Agora, aquele que tem alguma ascensão social quer provar isso através de uma vida de opulência e ostentação.
            Vivemos em uma “sociedade de consumo”. As pessoas têm o seu status social aferido pela capacidade de consumir. Isso leva a um consumo do supérfluo para provar ascensão social (ainda que só aparente). Muitas pessoas que têm necessidades básicas insatisfeitas já compraram o último modelo de celular ou de televisão.
            Na sociedade de consumo, o consumo é incentivado pelo sistema de crédito que já “quebrou” muita gente, fazendo aumentar o número de devedores e de nomes sujos na praça. As pessoas são incentivadas a comprar sem dinheiro, mas não sem preço. O tratamento psicológico que se dá ao comprador de produtos caros os deixa inebriados.  Há pessoas carentes que querem comprar coisas caras para se sentirem bem tratadas ao menos uma vez na vida. Elas não percebem o que se seguirá a isso, não conseguem ouvir antecipadamente os gritos e as ameaças futuras dos cobradores.
            A ética protestante favorece a uma melhoria de vida, pois é marcada pelo comedimento e pela simplicidade. Nela, porém, há uma desconfiança da riqueza e uma vigilância constante. O consumismo, porém, incentiva os gastos e tem levado muitos à ruína.
            A teologia da prosperidade é a teologia do consumismo, pois incentiva a prosperidade e não a virtude, além de confundir prosperidade com ostentação.
            Precisamos voltar à fonte, à Reforma. Os crentes devem ser comedidos e não cair no fascínio do consumo. Não podemos nos conformar com o mundo, mas ter uma mente renovada (Romanos 12).

Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho (Teólogo e Sociólogo da Religião)

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