Vejo constantemente pessoas
citando um duro escrito de Lutero contra os judeus para sugerir que ele era
anti-semita. Lembro, porém, que o escrito não foi endereçado aos judeus de
raça, mas de religião. Não foi um ataque religioso, mas ligado à ordem civil.
Lutero queria o fechamento das sinagogas por causa dos negócios creditícios
proibidos legalmente na época (que eram realizados sob o manto das sinagogas).
Lutero queria que os judeus, através da abolição da usura, fossem “forçados” a
trabalhar. Ele, entretanto, fez oposição categórica a que fossem mortos e
lamentou ter que escrever tão duramente. O escrito se referia a uma situação
específica e localizada na Alemanha.
Não concordo com a linguagem rabugenta e impaciente
do velho e enfermo Lutero, nem endosso todas as suas conclusões, mas Lutero
nunca foi racista. O teólogo católico do século XVI, João Eck, chamou um líder
luterano ligado ao reformador de “protetor dos judeus”. No seu escrito “Que
Jesus foi um judeu nato”, Lutero protestou contra os católicos por tratarem “os
judeus como se fossem cachorros e não
seres humanos” e por tomarem as suas propriedades. Ele também disse: “E mesmo
que nos gloriemos por nosso estado, contudo somos gentios ainda assim. Os
judeus, porém, são do sangue de Cristo; nós somos cunhados e estrangeiros, eles
são amigos de sangue, primos e irmãos de nosso Senhor. Por isso, se pudéssemos
nos gloriar no sangue e na carne, os judeus estariam mais próximos de Cristo do
que nós... Peço, portanto, a meus estimados papistas, quando estiverem cansados
de me acusar de ser um herege, que comecem a me acusar de ser um judeu”.
Lutero
cria na conversão e restauração de Israel à sua terra no final da História. O professor da Universidade de Leipzig (Alemanha), Helmar Junghans, disse: "Assim, por exemplo, o anti-semitismo vienense certamente é mais importante no caso de Adolf Hitler, pertencente ao ambiente católico romano da Europa Oriental, para o surgimento do ódio contra os judeus que os escritos de Lutero referentes aos judeus".
Quem
quiser ler mais sobre a distinta relação de católicos com judeus e protestantes
com judeus, aconselho a leitura de meu livro “A Reforma Protestante e o Estado
de Direito” (p. 276-282).
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