Introdução
O pentecostalismo é um movimento que começou nos
Estados Unidos, tendo tido, desde então, uma impressionante expansão para
vários países do mundo. No Brasil, a denominação evangélica mais numerosa
(Assembleia de Deus) é pentecostal e as igrejas que mais crescem atualmente são
neopentecostais.
Os neopentecostais se distanciaram da
identidade evangélica ao abraçarem a “teologia da prosperidade”, enquanto as
igrejas pentecostais clássicas perderam o espírito do movimento através do
processo de institucionalização e contemporização crescente. Os primitivos
pentecostais tinham mais parentesco com os antigos metodistas e batistas do que
com as atuais igrejas pentecostais. O objetivo do presente artigo é fazer uma
breve apresentação das origens norte-americanas desse movimento.
As origens do
Movimento Pentecostal
Os
dois eventos ligados ao início do pentecostalismo nos EUA foram as experiências
pentecostais no Bethel Bible College em Topeka (1901) e a “explosão”
pentecostal na Rua Azuza (Los Angeles - 1906). No primeiro caso, destacamos a
figura de Charles Fox Parham, e, no segundo, a de William Seymour.
Charles
Fox Parham era originário do “movimento de santidade”, o qual, sendo herdeiro
da tradição wesleyana e do avivalismo norte-americano, apregoava a santificação
como uma experiência definida, uma “segunda benção”. Parham foi diretor-fundador do Bethel Bible
College na cidade de Topeka. A referida instituição dedicava-se ao treinamento
de missionários e fomentava a prática de oração por cura divina.
Com
o passar do tempo, Parham e seus alunos passaram a acreditar em uma “terceira
benção”, o batismo no Espírito Santo com a evidência inicial de falar em
línguas desconhecidas. Em uma reunião de oração em 1901, Agnes Ozman, uma das
estudantes da instituição teológica de Parham, falou em novas línguas. Depois, outros,
inclusive o próprio Parham, receberam a mesma experiência. Ele, então, passou a
viajar em caravanas com um grupo de assistentes difundindo a mensagem
pentecostal.
Algumas interpretações pouco
comuns de certas passagens da Bíblia juntamente com acusações difamatórias (que
se comprovaram falsas) impediram Parham de dar maior difusão ao movimento. No
entanto, em 1905, em uma escola bíblica, a mensagem de Parham alcançou William
Seymour, um negro que tinha uma deficiência visual.
Em Los Angeles, depois de hostilizado
pelo movimento holiness, Seymour
iniciou reuniões pentecostais em um templo metodista abandonado. Surgia a
“Apostolic Faith Mission”. Notícias do fenômeno de línguas se difundiram por
toda parte. Pessoas de vários locais dos EUA e da Europa vieram até a missão da
Rua Azusa para receber a experiência pentecostal e levar a mensagem para outros
lugares. Houve desde o começo uma forte associação do batismo no Espírito Santo
com a atividade missionária.
No início, mostrou-se
impressionante a união de negros e brancos no pentecostalismo da Rua Azusa.
Algum rastro de racismo só veio aparecer entre os pentecostais brancos em 1914
com o surgimento das Assembleias de Deus no Arkansas. O estilo espontâneo e
expressivo do pentecostalismo, porém, deve muito a influência afro-americana.
Também são características do movimento a oralidade da liturgia, os testemunhos
públicos e o êxtase.
Depois de certo tempo, algumas
divisões começaram a surgir no movimento Azusa. Destacamos aquela proveniente
da discordância de William Durham com relação à existência de três etapas na
vida cristã (salvação, santificação e batismo no Espírito Santo). Durham
propunha apenas duas etapas (salvação e batismo no Espírito Santo), sendo a
santificação vista como desenvolvimento da salvação. Foi a visão teológica de
Durham que definiu a ortodoxia pentecostal.
Os seguidores de Durham
organizaram em 1907 a “North Avenue Mission”. Foi do círculo de seguidores de
Durham que saíram os pioneiros do pentecostalismo brasileiro: Louis Francescon
(fundador da Congregação Cristã do Brasil, que acabou se tornando uma seita
herética), Gunnar Vingren e Daniel Berg (fundadores da Assembleia de Deus). É
interessante que o primeiro era de origem italiana e os dois últimos eram
suecos.
O movimento pentecostal chegou ao
Brasil em 1910-11. As primeiras denominações foram a Congregação Cristã do
Brasil e a Assembleia de Deus. A última teve maior impacto e crescimento, tendo
início no Pará com um grupo proveniente de uma igreja batista. A Assembleia de
Deus teve um grande apoio dos pentecostais suecos, passando depois a ter um
desenvolvimento mais independente.
O pentecostalismo, em razão da
ênfase na experiência subjetiva, produziu muitas divisões ocasionadas por
interpretações particulares da Escritura e culto a personalidades. Posteriormente, a mensagem pentecostal entrou
nas igrejas históricas (movimento de renovação espiritual) e o catolicismo
criou a sua versão espúria de pentecostalismo (renovação carismática católica).
Atualmente, cresce muito o
neopentecostalismo (com destaque para a IURD e para a Igreja Mundial do Poder
de Deus). O neopentecostalismo vem se adaptando ao contexto da globalização e
da economia de mercado. Ao mesmo tempo em que o neopentecostalismo revela um
sincretismo de elementos evangélicos, católicos e espíritas, promove a
esperança de sucesso material como expressão da benção divina. Não podemos,
porém, associar o pentecostalismo clássico, herdeiro de uma tradição evangélica
e avivalista, com o neopentecostalismo, reflexo de uma sociedade egocêntrica e
consumista.
Dr. Glauco Barreira Magalhães
Filho
Doutor em Sociologia da Religião
(UFC)
Professor de Hermenêutica (UFC)
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