Os
variados conflitos na Irlanda datam de mais de 500 anos, quando imigrantes
britânicos chegaram para colonizá-la. A luta pelo controle político da ilha
chegou a uma definição com a vitória do príncipe holandês Guilherme de Orange
contra o rei James I na batalha de Royne. Depois disso, houve relativa paz por
séculos. Em 1920, houve uma nova luta armada que dividiu a ilha em República de
Eire (Irlanda do Sul) e a região autônoma de Ulster (Irlanda do Norte), sendo o
Sul menos desenvolvido que o Norte. Feita a divisão, houve meio século de paz.
A
guerra foi iniciada não propriamente por católicos ou protestantes, mas pelo
IRA (Exército Republicano Irlandês), grupo nominalmente “católico”. Quando
estive na Irlanda, eu vi nos bairros aderentes ao IRA uma mistura de símbolos
católicos, comunistas e anárquicos.
O IRA começou
a luta contra os ingleses em 1916. A partir de 1920 (ano da divisão da Irlanda)
viveu na clandestinidade até 1956. Após esse ano, voltou a atacar por técnicas
terroristas. Foram desestruturados por forças regulares em 1960. Eles, então,
voltaram a agir em 1969 com terrorismo indiscriminado. O IRA se tornou um grupo
organizado com poderosa munição e atiradores treinados em Cuba, na Coréia e na
antiga Rússia.
O governo
da Irlanda do Sul (país católico) também rejeitou o IRA como movimento ilegal,
pois o projeto do IRA era unificar as duas partes da Irlanda sob um governo
marxista. Na Irlanda do Norte (Protestante), a maioria dos católicos não apoiou
o IRA, mas, por temor de represália, se tornou uma “maioria silenciosa”.
Os
protestantes da Irlanda do Norte e muitos católicos têm resistido a idéia de
união com a Irlanda do Sul por motivos econômicos (o padrão de vida e os
salários no Sul são bem inferiores ao Norte) e ideológicos (a Igreja Católica
Romana é a religião oficial e constitucional da República da Irlanda, mas os
protestantes querem um Estado cristão não confessional).
No
passado, houve certas injustiças aos católicos na Irlanda do Norte, mas o
governo tem procurado reparar isso. Cerca de 52% das casas populares
constituídas desde a Segunda Guerra Mundial foram destinadas aos católicos,
apesar de representarem apenas um terço da população. Por outro lado, há o que
o Bispo Robinson Cavalcanti chamou de “autodiscriminação”: “os católicos querem
escolas católicas, não aceitando mandar os filhos para as escolas públicas”.
A
liberdade dos católicos se revela no fato de que, de cinco jornais diários
existentes no século XX, três eram católicos, um era protestante e um era
neutro. Diferentemente do que a imprensa internacional disse, os conflitos
foram localizados e não atingiram todo o país, sendo os protestantes
extremistas (UDA) uma minoria.
Como
se pode perceber, a guerra irlandesa nunca foi religiosa, mas é uma guerra
política com insinuações religiosas. Tudo ficou mais grave com o
sensacionalismo da imprensa.
Do
ponto de vista positivo, conforme o Bispo Robinson Cavalcanti, “a Irlanda do
Norte apresenta o melhor quadro de moralidade e decência das ilhas britânicas,
assim como de freqüência às igrejas e de convicções religiosas. A família é
mais estável e as tradições mais relevantes... Centenas e milhares de pessoas
estão orando em grupos, pela manhã, ao meio-dia ou à noite por um reavivamento
espiritual, por uma paz que seja fruto do sopro do Espírito de Deus”.
Dr.
Glauco Barreira Magalhães Filho
Doutor em Sociologia (UFC)
Doutor em Ministério (FTML)
Professor de Hermenêutica (UFC)
Membro do Núcleo de Estudos de Política, Religião e
Cultura (NERPO – UFC)
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