CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE

Seja bem-vindo a "CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE". Aqui procuraremos apresentar artigos acerca de assuntos acadêmicos relacionados aos mais diversos saberes, mantendo sempre a premissa de que a teologia é a rainha das ciências, pois trata dos fundamentos (pressupostos) de todo pensamento, bem como de seu encerramento ou coroamento final. Inspiramo-nos em John Wesley, leitor voraz de poesia e filosofia clássica, conhecedor e professor de várias línguas, escritor de livros de medicina, teólogo, filantropo, professor de Oxford e pregador fervoroso do avivamento espiritual que incendiou a Inglaterra no século XVIII.

A situação atual é avaliada dentro de seus vários aspectos modais (econômico, jurídico, político, linguístico, etc.), mas com a certeza de que esses momentos da realidade precisam encontrar um fator último e absoluto que lhes dê coerência. Esse fator último define a cosmovisão adotada. Caso não reconheçamos Deus nela, incorreremos no erro de absolutizar algum aspecto modal, que é relativo por definição.

A nossa cosmovisão não é baseada na dicotomia "forma e matéria" (pensamento greco-clássico), nem na dicotomia "natureza-graça" (catolicismo), nem na "natureza-liberdade" (humanismo), mas, sim, na tricotomia "criação-queda-redenção" (pensamento evangélico).

ESTE BLOG INICIOU EM 09 DE JANEIRO DE 2012





quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

REVISTA DA FACULDADE DE DIREITO DA UFC (EDIÇÃO COMEMORATIVA DOS 110 ANOS)

No dia 06 de março de 2013, após o culto de ação de graças dos 110 anos da Faculdade de Direito da UFC (Anfiteatro da Faculdade, 19h - 20h:15min), no qual o Rev. Glauco Barreira Magalhães Filho estará proferindo sermão, haverá o lançamento da Revista da Faculdade de Direito (Edição comemorativa dos 110 anos). Nessa edição, o professor Glauco Barreira Magalhães Filho terá publicado um artigo intitulado "Protestantismo, Estado de Direito e Totalitarismo". O artigo versa sobre a resistência evangélica ao Estado Nazista no século XX.


 

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

REV. GLAUCO FILHO NA ORMECE EM MARÇO

No dia 27 de março, às 9: 00h (manhã), o Rev. Glauco Barreira Magalhães Filho estará ministrando mensagem na ORMECE (Ordem de Ministros do Estado do Ceará). O evento se dará na Igreja Evangélica Presbiteriana de Fortaleza (Av. Visconde do Rio Branco, 1636 - Centro)
 
 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A IGREJA, ISRAEL E AS NAÇÕES

            O grupo islâmico Hamas não é apenas um grupo terrorista dentro dos países muçulmanos, ele representa o pensamento muçulmano. Se os países islâmicos não apoiassem esse grupo já o teriam destruído juntamente com suas bases militares. Como Israel pode facilmente localizá-los e os líderes dos países islâmicos não?
            Foi o Hamas que quebrou o acordo de trégua, gerando a necessidade de os israelenses se defenderem. O Hamas não só usa escudos humanos, mas faz túneis de suas bases militares para regiões civis. Esses túneis são cheios de explosivos do grupo terrorista. Quando Israel ataca uma base militar, os explosivos dos túneis, seguindo um efeito cascata, levam fogo até regiões civis, criando a impressão de que os bombardeios israelenses foram lá. O mundo, entretanto, não quer saber de intenções boas ou más, mas apenas da “segurança internacional”. Desse modo, Israel é visto como um aborrecimento e um peso. O mundo sempre odiou Israel e continua odiando, porque odeia a Deus.
            Ultimamente, o mundo vem protestando contra Israel porque fez bloqueio a Gaza e supervisiona os mantimentos para lá enviados. Ora, o grupo Hamas domina a faixa de Gaza e recebe armas através de tráfico ilegal. Israel envia constantemente mantimentos para Gaza e os navios humanitários que enviam mantimentos, depois de supervisionados, têm o seu mantimento enviado igualmente para Gaza. O mundo não quer que Israel ataque o inimigo em seu território e ainda quer que permita a chegada de armas para o inimigo? O bloqueio de Gaza é um modo pacífico de Israel se defender. O mundo, porém, quer a destruição desse povo. O anti-semitismo não é mais uma desgraça da Alemanha do século XX, mas do mundo do século XXI.
            Há três grupos no plano histórico de Deus: a Igreja, Israel e as Nações. A igreja foi escolhida como instrumento de expressão da graça de Deus. Sua missão não envolve guerras, mas, sim, a pregação do evangelho. A igreja é o povo celestial de Deus, sua luta é espiritual e sua ética é a da não resistência.
            As Nações são o objeto da ira de Deus, pois perseguem a igreja e Israel. Israel é objeto da disciplina de Deus. Deus pune Israel através das Nações por recusar o evangelho, mas seu objetivo é, finalmente, reconciliar consigo o povo eleito. As profecias apontam para a reconciliação futura de Israel com Deus. As Nações, por outro lado, serão julgadas e punidas por oprimirem Israel.
            Israel é o povo terreno de Deus. Através de Israel, direta ou indiretamente, Deus executa seu juízo sobre as nações. Israel, diferentemente da igreja, precisa lutar fisicamente para defender suas fronteiras, principalmente daquele que será o Anticristo.
            Não somos pacifistas no sentido de algumas filosofias “humanistas”. Se fôssemos, teríamos que recusar a inspiração do Velho Testamento.
A igreja (que inclui judeus convertidos) não deve defender-se com armas em hipótese alguma, pois é o povo celestial e espiritual de Deus. Israel, todavia, terá defender-se de seus inimigos, pois é o povo terreno de Deus. Israel têm promessas terrenas e a igreja tem promessas celestiais. Um judeu só irá ao céu pela conversão a Cristo e assimilação na igreja, mas Deus promete bênçãos terrenas (e disciplinas específicas) para Israel enquanto Nação.
Alguns dirão que eu estou me contradizendo, estabelecendo um “ethos” diferenciado para a igreja e para Israel. Embora haja uma lei natural para os preceitos éticos básicos, eu observo que o todo da ética depende da revelação (não de uma “ética do discurso”) e de quem somos no plano de Deus.
Os que afirmam que os evangélicos bíblicos se contradizem são aqueles não conheceram a “MULTIFORME SABEDORIA DE DEUS” (Efésios 3: 10)!
 
Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho
Doutor em Sociologia (UFC)
Livre Docente em Filosofia (UVA)
Doutor em Teologia (Faculdade Etnia) e Ministério (FTML)
Professor de Hermenêutica e Estudos do Imaginário Jurídico (UFC)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

NERPO - UFC - CNPQ


Segue o histórico do NERPO:

"As atividades do Núcleo contemplam a construção de projetos coletivos de pesquisa; reuniões de discussão de livros e de peças áudio-visuais, bem como de pesquisas e textos produzidos pelos integrantes do grupo. Várias iniciativas vêm sendo tomadas de modo a facilitar a interlocução dos seus membros com pesquisadores locais, nacionais e internacionais interessados nos fatos religiosos. Desde 2003 existe um diálogo permanente com o Centre d'Études Interdisciplinaires des Faits Religieux, na École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris), através de um programa de pesquisas intitulado Diversification religieuse, interpénétration de civilisations et dynamiques politiques au Brésil et en France. Esse acordo já possibilitou a participação de pesquisadores do Núcleo nas atividades do CEIFR em Paris, e de pesquisadores franceses na UFC, em Fortaleza, através de aulas, conferências e orientação de estudantes de doutorado, bem como de estágios de doutorado sanduiche de alunos da UFC na EHESS. Desde 2006 outra via de interlocução foi aberta, com a Universidade de Sevilha, através da professora Manuela Cantón Delgado, antropóloga da religião, já convidada do Núcleo para visita à UFC." (DESCRIÇÃO DO NERPO NO CNPQ).

O Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho é membro do NERPO (Núcleo de Estudos de Religião, Cultura e Política) na condição de pesquisador.



HISTÓRICO:
O Núcleo de Estudos de Religião Cultura e Política (NERPO) foi criado como Grupo de Pesquisa no CNPq em 1997. Desde o final de 2002 vem sendo re-estruturado como núcleo de pesquisas da UFC, ligado ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Tem por objetivo a reunião de pesquisadores dos fatos religiosos na sociedade moderna e, em particular, no Brasil dos séculos XX e XXI. As pesquisas em curso contemplam de modo particular as diversas expressões do cristianismo católico e protestante, assim como outras tradições religiosas entre as quais o islamismo e as religiões afro-americanas. A sala do NERPO está localizada no prédio do Departamento de Ciências Sociais. O Núcleo é coordenado pela professora Júlia Miranda, professora titular da UFC/ICA, doutora em sociologia pela UnB - com estágio de dois anos na Universidade de Montreal (Faculdade de Teologia) – e pós-doutorado no Centro de Estudos Interdisciplinares dos Fatos Religiosos da École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris).
Os pesquisadores do NERPO (professores do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e de diferentes Departamentos da UFC; de outras instituições de ensino superior locais, nacionais e estrangeiras; assim como estudantes de doutorado, mestrado e graduação de vários cursos estão identificados com as seguintes linhas de pesquisa: 1) Religião e Política; 2) Religião, Mídia e Sociedade 3) Religião e Arte; 4) Transformações do Religioso no Brasil e 5) Religiões Afro-americanas: permanências e mutações.


Informações sobre o NERPO no CNPQ:

Informações sobre o Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho como pesquisador:


Pesquisa em andamento do Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho:


A REAÇÃO NEO-ORTODOXA DO PROTESTANTISMO NA ALEMANHA NAZISTA: UMA ANÁLISE SOCIOLÓGICA

            A presente pesquisa objetiva identificar como o movimento protestante neo-ortodoxo, diferentemente do protestantismo liberal, resistiu ao nazismo na Alemanha de Hitler. Enquanto o protestantismo liberal, em nome da aculturação religiosa, identificou o nazismo com a marcha da modernização, o movimento neo-ortodoxo, cujas figuras de destaque foram Karl Barth e Bonhoeffer, ressaltou as homologias da doutrina protestante com o Estado de Direito. Tais correlações podem ser identificadas por uma hermenêutica diatópica.
            Examinaremos também como Karl Barth procurou argumentar a favor do Estado de Direito pela via teológica, sem apelos à filosofia do Direito Natural, ao mesmo tempo em que salientaremos as afinidades históricas dos protestantes ortodoxos com os judeus, principalmente pela crença de que o plano de Deus para os “últimos dias” inclui a restauração espiritual de Israel. Dentro desse escopo, se procurará, pela pesquisa documental e historiográfica, identificar o auxílio que a “Igreja Confessante” prestou aos judeus em matéria de proteção e fuga da Alemanha.
            Por fim, faremos uma comparação das posições assumidas na Alemanha pelo catolicismo romano e pelo protestantismo neo-ortodoxo, fazendo, segundo o paradigma weberiano, uma análise do papel das crenças nos posicionamentos políticos. 

Glauco Barreira Magalhães Filho
Bacharel e Mestre em Direito
Doutor em Sociologia
Livre Docente em Filosofia do Direito
Professor da Faculdade de Direito da UFC: Hermenêutica Jurídica (Graduação), Estudos do Imaginário Jurídico (Pós-Graduação).

                                              Dr.Glauco e Glauco Neto (França)


domingo, 17 de fevereiro de 2013

HENRIQUE VIII, O PAPA E A REFORMA




INTRODUÇÃO

Henrique VIII, antes de se proclamar o Chefe da Igreja na Inglaterra, foi um católico romano fervoroso. Ele chegou mesmo a escrever um livro atacando as idéias de Martinho Lutero (A Defesa dos Sete Sacramentos), recebendo, por esse motivo, o título de “Defensor da Fé” do papa Leão X. Segundo o historiador Frank Dwyer, ele separou-se da igreja romana após ter sido “constantemente ludibriado e passado para trás por reis, papas e imperadores da Europa”.
Henrique VIII continuou católico após romper com Roma, razão pela qual a igreja anglicana conservava a dogmática romanista, tendo, porém, o rei como o seu chefe. Foi somente depois da morte de Henrique VIII que chegou plenamente a Reforma para a igreja da Inglaterra. Examinaremos aqui os eventos ligados à vida de Henrique VIII e a sua relação com a igreja romana. Em seguida, consideraremos a evolução posterior do anglicanismo.

HENRIQUE VIII E A IGREJA ROMANA

            Henrique VII (pai de Henrique VIII) prometeu casar Arthur (o seu filho mais velho e herdeiro legítimo do trono) com Catarina de Aragão (filha do rei Fernando da Espanha). O objetivo dessa união era selar a aliança entre seus pais (os reis da Inglaterra e da Espanha) contra um inimigo comum, o grande rei Luís XII, da França. O futuro filho do novo casal, por outro lado, poderia garantir a participação inglesa nos destinos da Europa.
            O casamento se deu em 04 de novembro de 1501. No cortejo que levava Catarina para a Catedral de São Paulo, onde se casaria com Arthur, estava Henrique (que viria a ser Henrique VIII), irmão de Arthur. Ele era cinco anos mais novo que Catarina.
            A mãe de Catarina era Isabel de Castela, uma mulher profundamente católica. Isabel tanto queria promover as luzes do Renascimento como as trevas da Inquisição. O rei Fernando (pai de Catarina), para não ser ameaçado pela França, casara as filhas com dois filhos de reis (o de Portugal e o da Inglaterra) e com a família do Imperador do Sacro Império Romano-Germânico.
            Em abril de 1502, houve a súbita morte de Arthur, irmão de Henrique e esposo de Catarina de Aragão. A rainha Isabel queria que Henrique substituísse Arthur, casando-se com Catarina. Os cânones da igreja, porém, baseados no Velho Testamento (Levítico 20: 21), não permitiam aquele enlace. O papa Júlio II, entretanto, politicamente interessado naquela união, deu autorização especial para o casamento. Em 1511, esse mesmo papa organizaria uma “Sagrada Aliança” com a Espanha contra o rei francês.
            O casamento de Henrique com Catarina deveria se dar quando ele tivesse 15 anos. Lembramos que Catarina era cinco anos mais velha que ele. Frank Dwyer observa que Henrique ficou em isolamento obrigatório até completar os 15 anos:

            “O isolamento do príncipe Henrique, no Palácio de Richmond, em Surrey, foi ainda mais severo do que o de Catarina. O menino era estreitamente vigiado por seu nervoso pai, que fazia todo o possível para manter a última esperança da linha Tudor...”[1]

            Um dia antes de seu 14o aniversário, o príncipe Henrique compareceu ao Conselho Privado (formado por assessores do rei) e repudiou secretamente a sua promessa de casar-se com Catarina. “Embora nem a Espanha nem Catarina soubessem disso até muito mais tarde, o contrato de casamento fora unilateralmente anulado pelos ingleses”(Frank Dwyer).
            Com a morte do pai, Henrique saiu do confinamento, tornando-se Henrique VIII e casando-se com Catarina, que tinha 23 anos. Nesse período, ele dividia a sua vida entre a igreja e o jogo. Chegava a ouvir até cinco missas por dia, ao mesmo tempo em que se divertia nos banquetes e nos jogos de dados e cartas.
            Quando o papa Júlio II fez uma aliança com a Espanha e Veneza contra o rei Luís XII da França, ele enviou uma bula secreta nomeando Henrique VIII rei da França caso aquele país fosse conquistado, enquanto o rei Fernando (Espanha) prometia ajudar Henrique a conquistar a Aquitânia, região francesa que já havia pertencido aos ingleses. Essas promessas eram condicionadas ao apoio de Henrique na luta contra a França. Henrique entrou na luta e teve destacadas vitórias, mas foi enganado tanto pelo papa como pelo rei Fernando.
            Henrique VIII firmou o Tratado de Lille com Fernando e Maximiliano, para, com o apoio deles, conquistar a França, mas foi novamente traído, pois, dez dias depois, ambos passaram a negociar secretamente com a França. Essa era a terceira vez que o pai de Catarina (esposa de Henrique VIII) traía o rei inglês. Ele mal podia acreditar.
            Dentro da Inglaterra, crescia o poder Thomas Wolsey. Ele era um padre ambicioso que conquistara várias honrarias, sendo finalmente Lord Chanceler da Inglaterra. A cada novo título, ele via crescer a sua fortuna. Em 1515, o papa Leão X nomeou Wolsey cardeal. Depois, ele foi nomeado núncio papal.
            Henrique VIII, revoltado com as traições da família de Catarina e, interpretando que o papa não poderia ter autorizado o seu casamento com ela, questionava a validade de seu matrimônio, desejando casar-se com Ana Bolena. O rei entendia ser um castigo divino o fato de Catarina não lhe ter dado um filho do sexo masculino, embora sentisse orgulho de sua filha Maria, a qual “nunca chorava”. Mais tarde, após a morte de Henrique VIII e de seu imediato sucessor, Maria reinaria tiranicamente sobre a Inglaterra. Ela procuraria levar a Inglaterra de volta ao catolicismo, martirizando muitos protestantes, e ficando conhecida como “Maria, a sanguinária”.
            Wolsey pretendia montar um tribunal secreto para anular o casamento do rei com Catarina, mas Carlos, o mais poderoso monarca da Europa, sobrinho de Catarina, não aceitaria tal coisa. Carlos também tinha o papa nas suas mãos. Em 1527, um exército alemão indisciplinado havia saqueado Roma e o papa, fugindo por um túnel que ia do Vaticano até a fortaleza do Castelo de Santo Ângelo, caíra nas mãos de Carlos. Wolsey, então, preferiu desfazer o tribunal secreto.
            Henrique enviou um pedido de anulação de seu casamento ao papa ao mesmo tempo em que Carlos defendia a causa de Catarina perante o papa Clemente. Wolsey defendia que a autorização que o papa Júlio dera para o casamento fora errônea.
            O papa Clemente, um esperto, usou todos os meios para protelar a decisão. Chegou mesmo a dar aos embaixadores de Henrique uma autorização para que este casasse com Ana Bolena, mas era um engodo, pois a autorização só teria efeito depois que o casamento com Catarina fosse declarado ilegal.
            Em 1528, a Inglaterra declarou guerra ao Sacro Império (Carlos). Por outro lado, o papa iniciou negociações de seu interesse com Carlos.
            O papa Clemente nomeou uma comissão geral com Wolsey e Campeggio para julgar o caso de anulação do casamento de Henrique na Inglaterra, sem haver apelação para o seu veredicto. Era uma nova cilada: a confirmação do veredicto papal não estava garantida.
            Na medida em que os exércitos de Carlos dominavam a Europa, o imperador obtivera do papa a promessa secreta de que a anulação do casamento de Henrique não aconteceria. Os melhores argumentos de Catarina eram os poderosos exércitos de seu sobrinho e o Tratado de Barcelona, que o papa assinara com Carlos.
            Henrique VIII terminou casando secretamente com Ana Bolena antes da decisão papal acerca da anulação de seu primeiro casamento. A oposição do papa ao novo casamento causou a ruptura da igreja inglesa com Roma. O parlamento inglês, então, reconheceu o rei como Chefe da Igreja da Inglaterra.
            O Parlamento inglês de 1529-1536 já vinha elaborando uma série de leis que vinham separando gradualmente os laços entre a Igreja Inglesa e Roma. Isso culminou no Ato de Supremacia (1534), que declarou o rei como “o único Supremo Cabeça na terra da Igreja da Inglaterra”. Era um retorno ao princípio medieval do “príncipe piedoso”.
            Depois de romper com o papado, Henrique VIII continuou defendendo a doutrina da transubstanciação e muitas outras doutrinas católicas. Ele perseguiu severamente os protestantes, bem como os católicos que não reconheciam a sua posição de chefe da igreja. Aos protestantes, ele dava a morte na fogueira, conforme a prática romanista. Entre os católicos mortos por Henrique, estava o seu ex-amigo Thomas More, o qual havia perseguido severamente muitos protestantes. Tony Lane observa que é difundida a falsa idéia de que o reformador João Calvino era um ditador em Genebra, mas a verdade é que Calvino nunca foi líder político em Genebra, enquanto Thomas More (tido como “santo”), sob a autoridade do ainda católico romano Henrique VIII, gerenciou forte perseguição e tortura contra muitos protestantes.
            Os protestantes da Europa não confiavam em Henrique VIII. Frank Dwyer observa:

            “Procurando aliados desesperadamente, Henrique fez alguns acenos para os líderes protestantes da Alemanha, que tinham se reunido na Liga de Schmalkalde. Mas os luteranos mostraram-se frios para com o monarca em perigo e que, afinal de contas, não era um verdadeiro protestante. Eles sabiam que o rei inglês não estava interessado em servir a nenhuma religião... Martinho Lutero chamara o divórcio de ‘um crime aos olhos de Deus’. ‘O senhor Henrique pretende ser Deus e fazer o que quiser’, observara Lutero com desdém.”
            “Enquanto o Parlamento, habilmente manobrado por Cromwell, tentava impedir a difusão do protestantismo radical na Inglaterra, Henrique, para garantir uma aliança, fingia estar cada vez mais interessado no luteranismo. Em maio de 1539, o Parlamento aprovou a  Lei de Seis Artigos, a codificação dos princípios básicos da Igreja Anglicana, que pôs fim às reformas luteranas na Inglaterra. A Igreja Anglicana mantinha a maior parte da doutrina católica; a diferença era que a Igreja inglesa seria chefiada pelo rei, não pelo papa. No conflito central entre o catolicismo e o luteranismo em relação à transubstanciação, Henrique aderia à posição católica de que o pão e o vinho da comunhão milagrosamente transformavam-se no corpo e sangue de Cristo durante a missa. Qualquer discordância dessa crença era sujeita a punição – Henrique não estava disposto a tolerar o protestantismo radical.”[2]

            Depois de uma sucessão de novos casamentos, em 12 de julho de 1543, Henrique VIII casou-se com a sua sexta esposa. Ela chamava-se Catarina Parr. Frank Dwyer comenta o seguinte sobre o fato:

            “Foi o casamento mais sensato que fez em sua vida. Catarina Parr era uma mulher extremamente boa, generosa e tolerante. Como resultado de seus persistentes esforços, os três filhos do rei reuniram-se na casa do pai pela primeira vez. Ana Cleves também ia ocasionalmente jantar com Henrique e Catarina. A nova rainha, uma protestante erudita, adorava as atividades piedosas. A corte de Henrique logo brilhou novamente com a alegre busca do conhecimento...”[3]

            Catarina Parr, com muito esforço, conseguiu reconciliar Henrique com as filhas (Maria e Elisabete). Ela passava muito tempo discutindo assuntos teológicos com o rei. O seu objetivo era persuadir Henrique a abraçar o protestantismo. Isso alarmou muitos clérigos. Carolly Erickson disse que “a sua dedicação à purificação da Igreja era persistente e sincera”.
            Catarina Parr e o seu círculo protestante conseguiram levar Henrique às primeiras iniciativas em direção à Reforma na Igreja Anglicana. Isso, entretanto, aconteceu em meio a muitas tensões e recuos de Henrique. O bispo de Winchester, Stephen Gardiner, um dos principais ministros de Henrique perseguia com violência os protestantes. Ele foi o responsável por Ana Askew ser queimada como herege. Askew, que tinha a simpatia das damas da rainha, foi queimada por não crer na transubstanciação. Gardiner chegou mesmo a acusar a rainha de heresia e persuadiu Henrique a assinar uma denúncia secreta contra ela. O rei, porém, mudou de idéia na última hora e tomou a defesa da esposa quando vieram prendê-la.

            REFORMA E RETORNO DO CATOLICISMO

            Henrique morreu em 28 de janeiro de 1547. Eduardo VI, o seu jovem e enfermo filho, tornou-se o rei. Ele foi considerado o primeiro monarca protestante da Inglaterra. Nessa época, a Igreja Anglicana aderiu à Reforma e formulou o Livro de Oração Comum. Pelo Ato de Uniformidade, ele aboliu o rito católico a favor do serviço protestante. Eduardo VI morreu logo de tuberculose, dando oportunidade de Maria (a sanguinária) ascender ao trono.
            Maria era católica e usou a posição de chefe da Igreja Anglicana para restaurar o catolicismo e promover uma sangrenta perseguição aos protestantes. Depois de seu governo, a Inglaterra criou uma aversão à idéia de retorno ao catolicismo.

            PROTESTANTISMO MODERADO E PURITANISMO

            Depois de Maria, Elisabete I, a Rainha Virgem, assumiu o trono. Essa foi a Era Dourada inglesa. Elisabete restaurou o protestantismo, mas numa via moderada.
            Em período posterior, houve novas concessões parciais à doutrina católica com Carlos I. A Revolução Puritana, porém, restaurou o protestantismo clássico de uma forma radical. Novas tendências católicas vieram quando os sucessores de Carlos I reassumiram o trono. Da Revolução Gloriosa até o Movimento de Oxford prevaleceu o protestantismo ortodoxo com variantes ocasionais. Até hoje dentro do anglicanismo, há tendências católicas herdadas de Henrique VIII (e de Maria, a sanguinária), tendências protestantes clássicas herdadas do período de Eduardo VI e tendências protestantes moderadas herdadas de Elisabete I. O liberalismo teológico, com o seu ceticismo e amoralidade, têm sido, porém, a grande ameaça dentro do anglicanismo contemporâneo.

            CARACTERÍSTICAS ANGLICANAS

            Embora o rei (ou a rainha) seja “o Chefe da Igreja da Inglaterra”, nunca foi reivindicada a infalibilidade em assuntos doutrinários para o rei (diferentemente do que acontece com o papado). Os documentos do anglicanismo fazem apelo às Escrituras como autoridade final em assuntos espirituais. Além disso, o rei apenas representa simbolicamente a unidade da igreja. A sua “chefia” é no campo institucional, não doutrinário. São os bispos primazes, principalmente o arcebispo da Cantuária, que definem a fé anglicana.
            Henrique VIII não fez a Reforma, mas separou de Roma a Igreja da Inglaterra. Isso abriu as portas para ações dos verdadeiros reformadores.
Para os anglicanos, a Igreja da Inglaterra não se separou do papado, mas, sim, se libertou dele. A Bretanha foi evangelizada por pregadores celtas que nada sabiam sobre o primado do bispo de Roma. Até o calendário religioso e a data de celebração da Páscoa dos bretões eram diferentes dos da Igreja Romana até o século VII. Foi no Sínodo de Whitby (663-664) que o rei de Northumbria impôs aos ingleses a submissão às sentenças do papa.
            Na Idade Média, a Inglaterra teve muitos movimentos que defendiam as doutrinas que, depois, foram sustentadas pelo protestantismo. Destacamos aquele liderado por John Wycliffe, para quem o papa era o próprio Anticristo. Também lembramos o franciscano Guilherme de Ockham como outro religioso inglês que questionou a autoridade que o papa reivindicava.


            Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho
            Doutor Honoris Causa
Doutor em Teologia
            Doutor em Sociologia
            Livre-Docente em Filosofia
            Mestre em Direito
            Professor de Hermenêutica da Universidade Federal do Ceará
            Coordenador do Curso de Direito da Fametro
            Diretor do Instituto Pietista de Cultura




[1] Henrique VIII. São Paulo: Nova Cultural, 1998, p. 15
[2] Henrique VIII. São Paulo: Nova Cultural, 1998, p. 71-72
[3] Henrique VIII. São Paulo: Nova Cultural, 1998, p. 80

sábado, 16 de fevereiro de 2013

REV. GLAUCO FILHO NA IGREJA PRESBITERIANA CENTRAL DE FORTALEZA

Nesse Domingo, dia 17 de Fevereiro de 2013, às 9:00h, o Rev. Glauco Barreira Magalhães Filho estará pregando no culto matinal da Igreja Presbiteriana Central de Fortaleza.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

PARTICIPAÇÃO EM BANCAS

No dia 03 de janeiro de 2013, o Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho, participou da Banca de Avaliação  referente à  Defesa da Monografia intitulada "O DIREITO COMO CONDIÇÃO PARA A PAZ PERPÉTUA EM IMMANUEL KANT", de Lucas Romero Montenegro (Faculdade de Direito da UFC). No dia 08 de fevereiro, às 11:00h, Sl. 130 (Faculdade de Direito - UFC), estará presidindo, na condição de orientador, a Banca de Exame da Defesa da Monografia intitulada "A UNIÃO HOMOSSEXUAL À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL", de João Vieira Júnior.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

AS ORIGENS DO MOVIMENTO PENTECOSTAL


Introdução        
 
O pentecostalismo é um movimento que começou nos Estados Unidos, tendo tido, desde então, uma impressionante expansão para vários países do mundo. No Brasil, a denominação evangélica mais numerosa (Assembleia de Deus) é pentecostal e as igrejas que mais crescem atualmente são neopentecostais.
 Os neopentecostais se distanciaram da identidade evangélica ao abraçarem a “teologia da prosperidade”, enquanto as igrejas pentecostais clássicas perderam o espírito do movimento através do processo de institucionalização e contemporização crescente. Os primitivos pentecostais tinham mais parentesco com os antigos metodistas e batistas do que com as atuais igrejas pentecostais. O objetivo do presente artigo é fazer uma breve apresentação das origens norte-americanas desse movimento.
 
As origens do Movimento Pentecostal
                Os dois eventos ligados ao início do pentecostalismo nos EUA foram as experiências pentecostais no Bethel Bible College em Topeka (1901) e a “explosão” pentecostal na Rua Azuza (Los Angeles - 1906). No primeiro caso, destacamos a figura de Charles Fox Parham, e, no segundo, a de William Seymour.
                Charles Fox Parham era originário do “movimento de santidade”, o qual, sendo herdeiro da tradição wesleyana e do avivalismo norte-americano, apregoava a santificação como uma experiência definida, uma “segunda benção”.  Parham foi diretor-fundador do Bethel Bible College na cidade de Topeka. A referida instituição dedicava-se ao treinamento de missionários e fomentava a prática de oração por cura divina.
                Com o passar do tempo, Parham e seus alunos passaram a acreditar em uma “terceira benção”, o batismo no Espírito Santo com a evidência inicial de falar em línguas desconhecidas. Em uma reunião de oração em 1901, Agnes Ozman, uma das estudantes da instituição teológica de Parham, falou em novas línguas. Depois, outros, inclusive o próprio Parham, receberam a mesma experiência. Ele, então, passou a viajar em caravanas com um grupo de assistentes difundindo a mensagem pentecostal.
Algumas interpretações pouco comuns de certas passagens da Bíblia juntamente com acusações difamatórias (que se comprovaram falsas) impediram Parham de dar maior difusão ao movimento. No entanto, em 1905, em uma escola bíblica, a mensagem de Parham alcançou William Seymour, um negro que tinha uma deficiência visual.
Em Los Angeles, depois de hostilizado pelo movimento holiness, Seymour iniciou reuniões pentecostais em um templo metodista abandonado. Surgia a “Apostolic Faith Mission”. Notícias do fenômeno de línguas se difundiram por toda parte. Pessoas de vários locais dos EUA e da Europa vieram até a missão da Rua Azusa para receber a experiência pentecostal e levar a mensagem para outros lugares. Houve desde o começo uma forte associação do batismo no Espírito Santo com a atividade missionária.
No início, mostrou-se impressionante a união de negros e brancos no pentecostalismo da Rua Azusa. Algum rastro de racismo só veio aparecer entre os pentecostais brancos em 1914 com o surgimento das Assembleias de Deus no Arkansas. O estilo espontâneo e expressivo do pentecostalismo, porém, deve muito a influência afro-americana. Também são características do movimento a oralidade da liturgia, os testemunhos públicos e o êxtase.
Depois de certo tempo, algumas divisões começaram a surgir no movimento Azusa. Destacamos aquela proveniente da discordância de William Durham com relação à existência de três etapas na vida cristã (salvação, santificação e batismo no Espírito Santo). Durham propunha apenas duas etapas (salvação e batismo no Espírito Santo), sendo a santificação vista como desenvolvimento da salvação. Foi a visão teológica de Durham que definiu a ortodoxia pentecostal.
Os seguidores de Durham organizaram em 1907 a “North Avenue Mission”. Foi do círculo de seguidores de Durham que saíram os pioneiros do pentecostalismo brasileiro: Louis Francescon (fundador da Congregação Cristã do Brasil, que acabou se tornando uma seita herética), Gunnar Vingren e Daniel Berg (fundadores da Assembleia de Deus). É interessante que o primeiro era de origem italiana e os dois últimos eram suecos.
O movimento pentecostal chegou ao Brasil em 1910-11. As primeiras denominações foram a Congregação Cristã do Brasil e a Assembleia de Deus. A última teve maior impacto e crescimento, tendo início no Pará com um grupo proveniente de uma igreja batista. A Assembleia de Deus teve um grande apoio dos pentecostais suecos, passando depois a ter um desenvolvimento mais independente.
O pentecostalismo, em razão da ênfase na experiência subjetiva, produziu muitas divisões ocasionadas por interpretações particulares da Escritura e culto a personalidades.  Posteriormente, a mensagem pentecostal entrou nas igrejas históricas (movimento de renovação espiritual) e o catolicismo criou a sua versão espúria de pentecostalismo (renovação carismática católica).
Atualmente, cresce muito o neopentecostalismo (com destaque para a IURD e para a Igreja Mundial do Poder de Deus). O neopentecostalismo vem se adaptando ao contexto da globalização e da economia de mercado. Ao mesmo tempo em que o neopentecostalismo revela um sincretismo de elementos evangélicos, católicos e espíritas, promove a esperança de sucesso material como expressão da benção divina. Não podemos, porém, associar o pentecostalismo clássico, herdeiro de uma tradição evangélica e avivalista, com o neopentecostalismo, reflexo de uma sociedade egocêntrica e consumista.
 
 
Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho
Doutor em Sociologia da Religião (UFC)
Professor de Hermenêutica (UFC)