CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE

Seja bem-vindo a "CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE". Aqui procuraremos apresentar artigos acerca de assuntos acadêmicos relacionados aos mais diversos saberes, mantendo sempre a premissa de que a teologia é a rainha das ciências, pois trata dos fundamentos (pressupostos) de todo pensamento, bem como de seu encerramento ou coroamento final. Inspiramo-nos em John Wesley, leitor voraz de poesia e filosofia clássica, conhecedor e professor de várias línguas, escritor de livros de medicina, teólogo, filantropo, professor de Oxford e pregador fervoroso do avivamento espiritual que incendiou a Inglaterra no século XVIII.

A situação atual é avaliada dentro de seus vários aspectos modais (econômico, jurídico, político, linguístico, etc.), mas com a certeza de que esses momentos da realidade precisam encontrar um fator último e absoluto que lhes dê coerência. Esse fator último define a cosmovisão adotada. Caso não reconheçamos Deus nela, incorreremos no erro de absolutizar algum aspecto modal, que é relativo por definição.

A nossa cosmovisão não é baseada na dicotomia "forma e matéria" (pensamento greco-clássico), nem na dicotomia "natureza-graça" (catolicismo), nem na "natureza-liberdade" (humanismo), mas, sim, na tricotomia "criação-queda-redenção" (pensamento evangélico).

ESTE BLOG INICIOU EM 09 DE JANEIRO DE 2012





segunda-feira, 25 de julho de 2016

HERMAN DOOYEWEERD: SUPERAÇÃO DO INDIVIDUALISMO E DA LUTA DE CLASSES NA VISÃO REFORMADA DO ESTADO


O filósofo reformado Herman Dooyeweerd mostrou em seu pensamento cosmonômico que a melhor concepção de Estado não é a do marxismo nem do liberalismo desenfreado. Seguem as suas lúcidas palavras sobre o assunto:


“O processo de racionalização técnica ilimitado e unilateral na vida industrial economicamente qualificada aguçou o contraste entre os interesses do trabalho e do capital até transforma-los numa verdadeira luta de classes. O trabalho foi visto à parte da personalidade humana como um utensílio de mercado, e nas fábricas a comunidade de trabalhadores foi afetada em alto grau pelo ponto de vista exclusivamente individualista e contratual. A competição ilimitada no mercado fez com que a caracterização hobesiana do estado de natureza, como uma condição do homo homini lúpus (´o homem é o lobo do homem´), fosse uma terrível realidade.”
“Na medida em que as estruturas sociais interindividuais são indissoluvelmente entrelaçadas com aquelas dos relacionamentos institucionais, a família e os vínculos de parentesco, assim como o Estado, também foram afetados por esse processo mórbido de doença na ‘sociedade livre’. Grupos sociais para a promoção  de interesses privados tentaram se apossar do poder político para tornar a instituição do Estado subserviente aos seus interesses sociais. O fator de interesse econômico privado e a perniciosa ideologia do dogma da luta de classes penetraram o sistema político partidário. A vida familiar e os vínculos de parentesco dos trabalhadores foram desnaturados pela usurpação das relações industriais, racionalizadas de modo impessoal. Nas relações políticas internacionais, o ´egoísmo sagrado´ dos Estados separados foi elevado à categoria de lei máxima."
          "Tais tendências individualistas no desenvolvimento social formam uma antítese irreconciliável com a idéia cristã das relações internacionais livres. A ´civitas terrena´ revelou-se nesse processo individualista de desintegração, e o cristianismo foi condenado à decadência sempre que pensou em fazer uma trégua, ou um tratado de paz, com esse reino de trevas” (A NEW CRITIQUE OF THEORETICAL THOUGHT. Amsterdã e Filadélfia: 1957, Vol. III, p. 596).


Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho

quinta-feira, 21 de julho de 2016

ENTREVISTA COM O DR. GLAUCO BARREIRA MAGALHÃES FILHO SOBRE DIREITOS HUMANOS E REDES SOCIAIS - JORNAL DA UFC






A equipe do Jornal da UFC (Universidade Federal do Ceará) entrou em contato comigo (Prof. Glauco Barreira Magalhães Filho) a fim de que eu respondesse a algumas perguntas para posterior edição de uma matéria sobre direitos humanos (publicada em Julho/2016). Como muito pouco do que respondi apareceu no artigo, aproveito a oportunidade para compartilhar o conteúdo completo da entrevista nesse espaço:

PERGUNTAS:

1)         A que a senhor atribui esta ampliação (ou aparente ampliação) dos casos de transgressão aos direitos humanos dentro da Universidade?

RESPOSTA: Acredito que sempre houve agressões nas Universidades. Os trotes violentos, por exemplo, eram mais comuns no passado do que hoje. Atualmente, porém, enfrentamos um problema específico, o questionamento da corrente hegemônica (herdeira do marxismo e, depois, da filosofia pós-moderna) nos meios acadêmicos brasileiros. Através da internet e pelo conhecimento de outras visões alternativas, muitas pessoas começaram a discordar dessa corrente, expressando corajosamente as suas opiniões. Os que defendiam a visão prevalecente, por sua vez, não estavam preparados para lidar com uma contestação do que parecia ser o “senso comum” acadêmico. Para aumentar a tensão, a hostilidade de um lado produziu hostilidade do outro.



2)         Como vê essa nova realidade, em que acontecimentos ganham rapidamente repercussão nas redes sociais. É positiva, no sentido de levantar estas discussões? É negativa, por estas serem também um outro dispositivo no qual se propagam preconceitos e injúrias?

RESPOSTA: As redes sociais são um veículo de comunicação importante e igualitário. Faz com que os acadêmicos percam seus privilégios diante da nivelação com o homem comum. É inclusiva. Não há como impedir a precipitação de opiniões.  É preciso apenas uma pessoa falar para desencadear uma discussão com aqueles que ainda estavam amadurecendo idéias. O que podemos incentivar é a humildade, a prontidão para mudar de opinião quando convencido. É importante também evitar os xingamentos, exibições de superioridade e agressões aviltantes. Elas criam inimizades, preconceitos e bloqueiam a comunicação e o mútuo convencimento.

3)         A temática dos direitos humanos é suficientemente discutida dentro do meio acadêmico?

RESPOSTA: Acredito que sim, mas de modo superficial. Os direitos humanos são “Bíblia” da sociedade secularizada. Mas, assim como a Bíblia é o livro mais vendido e menos lido, os direitos humanos são muito mencionados, mas pouco compreendidos. A grande problemática é que muitos querem desvinculá-los de sua raiz de origem. Pretendem desprezar a tradição que os originou (greco-romana e judaico-cristã) para pensá-los como fórmulas vazias aptas a recepcionar qualquer nova ideologia ou modismo intelectual. Os direitos comportam gerações ou dimensões, mas dentro da lógica em que foram originalmente pensados. Uma dimensão aprofunda, mas não extingue a outra. Não adianta falar em direitos humanos sem o pano de fundo histórico e filosófico (noção de Direito Natural) do qual brotaram.

4)         Como estimular a cultura de paz e tolerância dentro da Universidade?

RESPOSTA: Garantindo a ampla liberdade de expressão e difusão das idéias, mas estimulando o respeito mútuo e a linguagem cortês. Não precisamos ser relativistas quanto à verdade para respeitar o outro. Aliás, a tolerância se torna uma virtude real quando acreditamos que o outro está errado, procuramos convencê-lo disso, mas, ainda assim, somos respeitosos. A tolerância tem que ser a ética do respeito ao próximo, não a fraqueza dos que não acreditam em mais nada. Dentro desse escopo, temos que diferenciar opiniões sobre fatos e atos de agressões pessoais.

3) Em um momento em que casos de racismo, homofobia e machismo no meio universitário ganham repercussão dentro da Universidade, como vê a criação da Comissão de Direitos Humanos?

RESPOSTA: Em uma sociedade com tanta droga, desagregação familiar e desorientação psicológica, todo tipo de violência ocorre contra todo o tipo de pessoa. Devemos garantir que todos sejam humanamente tratados, sem criar guerras entre facções ideológicas. Desse modo, grupos que vivem em tensão entre si não podem culpar estrategicamente o outro quando houver alguma agressão a um dos seus membros. Não podemos usar a dor das pessoas para brigas ideológicas, fazendo delas um “caso paradigmático”. O amor faz do homem a sua “causa” em vez de usar o homem para alguma “causa”. Quando uma pessoa pertence a uma categoria que se representa por movimentos sociais, a agressão que sofre torna-se um problema público. Se, porém, ela não se insere em categoria que tenha mobilização, o seu sofrimento ainda é pior, pois é solitário. Inúmeras pessoas, por exemplo, são diariamente excluídas e maltratadas por sua moral familiar, fé ou condição social. A Comissão de Direitos Humanos é importante para colóquios frutíferos, devendo, porém, manter-se distante da política partidária e de tentativas de seqüestrar os direitos humanos para uma visão segmentaria. O grande desafio é valorizar o ser humano enquanto humano.

Prof. Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho (Mestre em Direito, Doutor em Sociologia e Livre Docente em Filosofia do Direito)
Professor da Faculdade de Direito da UFC das disciplinas Hermenêutica Jurídica e Aplicação do Direito (Graduação) e Estudos do Imaginário Jurídico (Mestrado e Doutorado em Direito).

terça-feira, 19 de julho de 2016

O Calvinismo Holandês e o Estado Social




Abraham Kuyper é a grande figura do neocalvinismo holandês. Os calvinistas brasileiros têm por ele uma grande admiração em razão de ele ter sido um grande promotor da idéia de cosmovisão e do senhorio cultural de Jesus Cristo em todas as áreas de nossas vidas. Kuyper, assim como o arminiano John Wesley antes dele, defendeu a legislação e o Estado (Liberal) Social como uma alternativa ao capitalismo e ao marxismo.
            L. Kalsbeek, em sua obra CONTORNOS DA FILOSOFIA CRISTÃ (Editora Cultura Cristã), comenta:

            “O Reverendo A. S. Talma, altamente consciente da presença de injustiças na sociedade, exerceu um papel significativo na aprovação da legislação de trabalho e bem-estar no parlamento holandês no início do século (XX). E Abraham Kuyper dirigiu-se aos temas sociais de seu dia na obra CHRISTIANITY AND CLAS STRUGGLE (1891). Nesse discurso singular, Kuyper lançou os fundamentos para uma crítica arquitetônica da desordem social trazida pela revolução industrial. Ali ele desenvolveu os princípios de uma alternativa ao capitalismo e ao marxismo que ainda hoje pode nos beneficiar. Michael Fogarty avaliou com louvores a proposta de Kuyper: ´Como uma afirmação dos princípios e da política cristã, ela foi digna do ano que também testemunhou o surgimento da Rerum Novarum’ – a famosa encíclica do Papa Leão XIII” (p. 128).


Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho

sexta-feira, 15 de julho de 2016

A FILOSOFIA REFORMADA DE HERMAN DOOYEWEERD: NEM MARXISMO NEM CAPITALISMO



A Filosofia Reformada de Herman Dooyeweerd rechaça tanto o marxismo como neocapitalismo (fruto da industrialização). Em uma obra de apresentação ao pensamento de Dooyeweerd - “Contornos da Filosofia Cristã” (Publicada no Brasil pela Editora Cultura Cristã) - L. Kalsbeek traz uma introdução de Bernard Zyistra, na qual ele explica que o movimento liderado por Herman Dooyeweerd “é agudamente crítico do Marxismo, mas ao mesmo tempo rejeita o neocapitalismo, que enxerga o progresso social primariamente como um aumento ilimitado de bens materiais. Uma crítica cristã do capitalismo é, obviamente, facilmente mal interpretada, especialmente na América do Norte, onde um protestantismo individualista tem freqüentemente servido como a justificativa moral para uma ordem social individualista” (p. 29).

Bernard Zyistra foi o principal professor de Teoria Política do Instituto de Estudos Cristãos (Toronto, Canadá) e um dos maiores especialistas na obra de Herman Dooyeweerd.


Dr. Glauco Barreira Magalhães Filho