Na época da Reforma Protestantes, destacaram-se os
anabatistas pela sua fidelidade evangélica. Lutero errou em não os distinguir
dos “entusiastas”, como admite o luterano Martin N. Dreher[1].
Muitos historiadores ainda hoje reproduzem essa equivocada indistinção.
Os anabatistas foram perseguidos tanto por católicos
como por autoridades protestantes. Lutero, ao aceitar o princípio da
territorialidade como demarcação entre o luteranismo e o catolicismo, rejeitou
o anabatismo por sua visão radical acerca da separação entre a igreja e o
Estado. Calvino, por outro lado, rejeitou o anabatismo com base em sua visão da
predestinação, que envolvia uma teologia do pacto ligada ao batismo infantil e
à regeneração antes da fé (associada normalmente com o batismo de crianças).
A doutrina do batismo adulto e sob profissão de fé
implicava para o anabatista todo um pano de fundo doutrinário, tanto uma
antropologia como uma eclesiologia. Atualmente, muitos que se dizem “batistas”
querem conciliar a prática do batismo adulto difundida pelos anabatistas com
pressuposições soteriológicas de outros sistemas teológicos. Percebe-se, porém,
que a doutrina do batismo termina se tornando insignificante nesse contexto,
faltando as bases que lhe dão pleno sentido.
John Smith foi um não conformista que adotou o
batismo adulto. Ele não foi o fundador da igreja batista como alguns dizem. O
seu movimento terminou inclusive sendo absorvido pela igreja menonita na
Holanda. O seu amigo Thomal Helwys, porém, voltou da Inglaterra para Holanda
para fundar igreja não ligada ao movimento menonita. Ao chegar lá encontrou
muitas igrejas batistas já estabelecidas, provenientes do anabatismo europeu.
Essas igrejas já batizavam por IMERSÃO antes de aparecerem igrejas
congregacionais que também aceitaram o batismo adulto (por imersão), ou seja,
antes daqueles que foram chamadas de “batistas particulares” (de filiação
calvinista). Há, portanto, um movimento batista cuja origem é anabatista e
outro cuja origem é congregacional (calvinista).
Os batistas provenientes dos anabatistas reivindicam
uma anterioridade em relação à Reforma Protestante, pois descendem de grupos
perseguidos em toda a Idade Média. Esses grupos, por sua vez, procedem daqueles
que não aceitaram a união da igreja com o Estado iniciada com o Imperador
Constantino. A Igreja Romana é fruto da constanização, enquanto os anabatistas
foram os continuadores do legado apostólico nunca destruído.
H.
H. Muirhead (Field Secretary of the Foreign Mission of the Southern Baptist
Convention U.S.A.) observa:
“Os historiadores modernos cada vez mais se
inclinam a concordar que a origem dos anabatistas suíços não procedeu das
reformas zwingliana e luterana, mas dos grupos evangélicos de tempos
anteriores, principalmente petrobrusianos, bogomilos e valdenses. ‘Recebeu o
dogma de batizar das sugestões de outros’, declarou Vadino, burgomestre de São
Gali e cunhado de Conrado Grebel, a quem certos historiadores das gerações
passadas tributam a honra de ser o fundador dos anabatistas suíços...
Investigadores alemães imparciais tem chegado à conclusão de que a
probabilidade de os ‘rebatizadores’ haverem mantido conexão histórica com ‘as
seitas’ da Idade Média, está em que estas apareceram precisamente onde aqueles
floresceram.
“Diz o mesmo historiador citado que os que sustentam
que os anabatistas se originaram da Reforma têem, entre outros, dois problemas
a resolver: Primeiro, a rapidez com que se estendeu o novo fermento e o vasto
território que, de pronto, foi ocupado por eles. Segundo, que as igrejas
anabatistas na época da Reforma não se desenvolvedram gradualmente, antes
apareceram desde o princípio, perfeitamente fundadas: completas em sua
organização, sãs em doutrina, e estritas em disciplina.” (O CRISTIANISMO
ATRAVÉS DOS SÉCULOS. 2a ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora
Batista, [s.d.] p. 186-187).
Rev. Glauco Barreira Magalhães Filho
Excelente texto. Parabéns.
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