CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE

Seja bem-vindo a "CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE". Aqui procuraremos apresentar artigos acerca de assuntos acadêmicos relacionados aos mais diversos saberes, mantendo sempre a premissa de que a teologia é a rainha das ciências, pois trata dos fundamentos (pressupostos) de todo pensamento, bem como de seu encerramento ou coroamento final. Inspiramo-nos em John Wesley, leitor voraz de poesia e filosofia clássica, conhecedor e professor de várias línguas, escritor de livros de medicina, teólogo, filantropo, professor de Oxford e pregador fervoroso do avivamento espiritual que incendiou a Inglaterra no século XVIII.

A situação atual é avaliada dentro de seus vários aspectos modais (econômico, jurídico, político, linguístico, etc.), mas com a certeza de que esses momentos da realidade precisam encontrar um fator último e absoluto que lhes dê coerência. Esse fator último define a cosmovisão adotada. Caso não reconheçamos Deus nela, incorreremos no erro de absolutizar algum aspecto modal, que é relativo por definição.

A nossa cosmovisão não é baseada na dicotomia "forma e matéria" (pensamento greco-clássico), nem na dicotomia "natureza-graça" (catolicismo), nem na "natureza-liberdade" (humanismo), mas, sim, na tricotomia "criação-queda-redenção" (pensamento evangélico).

ESTE BLOG INICIOU EM 09 DE JANEIRO DE 2012





domingo, 30 de agosto de 2020

SOBRE OS ESCÂNDALOS DE FLORDELIS E DO PR. EVERALDO

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Foto com dois heróis anônimos nesse formigueiro humano chamado Terra



Como anabatista, eu poderia simplesmente dizer que eu e minha igreja não nos envolvemos em política partidária nem temos candidatos próprios, reservando apenas para a nossa vocação a missão profética, que inclui o protesto contra leis ímpias e contra a degradação moral da cultura. Não digo que mencionar isso NÃO me foi uma tentação no presente. No entanto, não é hora para abandonar o restante dos evangélicos que tem uma visão mais envolvida de cidadania terrena para a “cova dos leões”. Resolvi, portanto, aqui, falar como porta voz da tradição evangélica mais ampla que a minha. Não incluo nela, porém, os defensores da “teologia da prosperidade” nem os teólogos progressistas ou liberais. Esses se desvincularam completamente da herança evangélica verdadeira. Eu me refiro à tradição que inclui a Reforma Protestante do século XVI, os avivalistas (séculos XVIII e XIX) e o movimento dos “fundamentos” nos EUA (século XX).

A tradição evangélica tem influência de dois grandes movimentos: o puritanismo e o metodismo. O primeiro vem do calvinismo, e o segundo, embora tenha surgido no anglicanismo, tem a influência direta do pietismo luterano.

Pela vertente puritana, seria difícil um cristão se enquadrar nos modos de fazer política que predominam hoje. Os políticos de hoje galgam ascensão, sobrelevando as suas ações e denegrindo a dos outros. A piedade puritana se baseava em reconhecer profundamente a corrupção humana, exaltando sempre a graça de Deus. O puritano estava sempre confessando os seus erros, buscando a contrição, fazendo autoexame e desconfiando de suas próprias motivações. Ele não dava a si mesmo o benefício da dúvida e, por isso, podia identificar logo as sementes do pecado, não permitindo que brotassem. Paralelamente a isso, o princípio da caridade cristã lhe exigia sempre pensar bem sobre o seu próximo, buscando a melhor interpretação, a mais benevolente, sem, porém, nunca ignorar ou ficar cego para fatos evidentes. Em outras palavras, ele era radical consigo mesmo e paciente com o próximo.

Quando um evangélico se envolve na FORMA de se fazer política hoje, ele se afasta de suas raízes, do exercício da piedade, tornando-se menos evangélico, ou, então, já foi atraído para esse jogo por ser um pseudo-evangélico.

Os metodistas destacavam a prática de obras de piedade (santificação individual) e obras de misericórdia (santificação social). Para eles, a última não se coadunava com uma vida de ostentação. O lema dos metodistas incluía trabalhar duro, economizar (interditar o gasto supérfluo) e distribuir o acumulado para missões e ajuda aos necessitados (“Ganhe Tudo o que Puder, Poupe Tudo o que puder, Doe Tudo o que puder”).

Eu desconfio de filantropos que se tornam políticos, de obras sociais de iniciativa privada que se alimentam de dinheiro público... como desconfio de figuras religiosas (como João de Deus) que atraem simpatia de artistas da Globo. Prefiro a obra social daquele que não muda o seu estilo de vida depois que a começa e onde a missão é promovida, não a personalidade.

Temo que escândalos recentes prejudiquem a imagem daqueles que fazem trabalhos sociais sinceros e desestimulem uma lúcida assistência aos necessitados. João Wesley, líder metodista do século XVIII, disse:

“Faça todo o bem que puder,

Por todos os meios que puder,

De todas as maneiras que você pode,

Em todos os lugares que você puder,

Em todas as vezes que você puder,

Para todas as pessoas que você puder,

Enquanto você pode, sempre.”

 

Lamento que alguns tomem esses exemplos ruins para falar contra o evangelho e mesmo contra Deus. O maior crime das pessoas que usam o evangelho, porém, é contra o próprio evangelho e contra Deus. Atacar o evangelho é atacar a esperança dos aprisionados pelo vício, pelo abandono, pela promiscuidade, pela amargura, pelo ressentimento. Esqueça esses exemplos ruins e veja quantas pessoas tiveram uma vida transformada pelo verdadeiro evangelho, pessoas que já estariam mortas, num hospício, no crime, na vergonha, se não fosse a mensagem do Cristo que, por amor de nós, foi crucificado!

Não fale contra Deus, pois é pela sua longanimidade que eu e você não fomos consumidos ainda. A natureza humana corrompida que atua nessas pessoas que recriminamos está dentro de nós. Estou escrevendo um livro para o próximo ano sobre o filósofo alemão Karl Jaspers. Ele falou em uma culpa coletiva e metafísica, uma cumplicidade da humanidade no mal que nos deveria fazer humildes e vigilantes.

David Brainerd, que dedicou a sua vida aos índios, quando era elogiado, sentia certa tristeza. Ele dizia que a pessoa que o elogiava não conhecia o seu coração, não sabia quando inclinações contrárias ao bem ele teve que vencer no íntimo em cada boa ação que praticou.

Alguns precipitados dizem: “Por que Deus não acaba com o mal no mundo?”. A resposta é simples: Ele poderia fazer isso agora, bastaria acabar com todos nós. O mal está na nossa natureza caída de sua posição original. Destruir o mal seria, portanto, destruir a humanidade. Deus, porém, quer nos libertar individualmente de nossa natureza caída para nos enxertar em uma nova humanidade que está em Cristo. Deus não quer destruir a humanidade agora porque quer salvar indivíduos humanos. Na sua paciência, ele adia o julgamento da humanidade para salvar indivíduos humanos. Deus ama mais pessoas que uma humanidade genérica. Ele ama o José, a Maria, o João, o Glauco... Ele ama VOCÊ e quer salvar a sua vida!

 

Rev. Glauco Barreira Magalhães Filho