Charles
Spurgeon costumava se identificar com os batistas particulares, os quais vinham
dos puritanos. Episodicamente (principalmente mais próximo ao fim da vida),
contestou algumas ênfases calvinistas, entrando em tensão com os seus colegas e
se aproximando em algumas convicções dos batistas gerais. Entre os batistas gerais, existiam grupos
provenientes de anabatistas europeus que traçavam uma linha antecedente de
comunidades fiéis desde os apóstolos até eles próprios. Em alguns momentos,
Spurgeon se sentiu membro da família mais ampla dos batistas e reconheceu a
existência dessa linha de continuidade apostólica. Segue o trecho de uma de
suas pregações sobre o assunto:
“Reflitam primeiro
no fato de que a Igreja existe. Que maravilha! É talvez o maior milagre de
todas as eras Deus ter uma igreja no mundo... Sempre uma Igreja! [...] Quando a
Roma papal descarregou sua astúcia maligna ainda mais furiosa e engenhosamente;
quando assassinos cruéis caçavam os santos por entre os Alpes, ou os
atormentavam nas terras baixas; quando os albigenses e os waldenses derramavam
seu sangue nos rios e tingiam de carmesim a neve, ela continuava viva, e nunca
esteve em estado mais sadio do que quando foi imersa em seu próprio sangue... A
nossa sucessão apostólica percorre linha ininterrupta; não por meio da Igreja
de Roma; não vinda das mãos supersticiosas de papas feitos por sacerdotes, nem
de bispos criados por reis (que envernizada mentira é a sucessão apostólica
daqueles que tão orgulhosamente se gabam dela!), mas, sim, por meio do sangue
de homens bons e fiéis que jamais abandonaram o testemunho de Jesus; por meio
dos lombos dos verdadeiros pastores, dos laboriosos evangelistas, dos mártires
fiéis e de honoráveis homens de Deus, traçamos a nossa linha de ascendência até
aos pescadores da Galiléia, e nossa glória é que, pela graça de Deus,
perpetuamos a verdadeira e fiel Igreja do Deus vivo, na qual Cristo habitou e
habitará até quando o mundo se despedaçar”[1]
Rev. Glauco Barreira Magalhães Filho
Rev. Glauco Barreira Magalhães Filho
[1] Apud MURRAY, Iain. O Spurgeon que foi esquecido. Trad. Odayr Olivetti. São
Paulo: PES, 2004, p. 50-51
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